O que estamos experimentando, com o distanciamento social para enfrentar a Covid-19, é a evolução de um modelo de trabalho que, provavelmente nos nossos planos, chegaria somente em alguns anos. Por quê? Porque não tínhamos “coragem digital”. O que aconteceu nos obrigou, da noite para o dia, a mudar a forma de trabalhar e de nos relacionar com colaboradores e clientes. E nós, executivos, temos que fazer mea-culpa, porque não era uma questão tecnológica, pois tudo está funcionando. Era um problema do nosso medo de dar esse passo. É o medo da inovação e do que é incerto, que é também o álibi para não avançar.
A coragem digital será o maior legado da Covid-19 para o setor empresarial. Trata-se da capacidade de enfrentarmos os receios em fazer uso de ferramentas digitais que a tecnologia já oferece, mas que víamos como soluções menos eficazes, simplesmente por não termos experimentado. Essa crise trouxe a oportunidade para que diversos setores pudessem inovar rapidamente para continuar garantindo o atendimento aos clientes e a continuidade dos negócios.
Em situação normal, uma grande empresa que quisesse migrar milhares de funcionários para o sistema de home office, levaria de dois a três anos. Seriam meses para chegar ao consenso e à tomada de decisões dos executivos, seguidos por meses de estabelecimento de planos e processos, e outros meses de testes e treinamentos. No entanto, a urgência da adoção do distanciamento social reduziu esse tempo para até três dias, como ocorreu com os colaboradores de gestão de rede e de call center em nossa companhia.
Um possível mea-culpa para nós, executivos, é que devemos ter coragem para cobrar que nossos times sejam mais inovadores. Enquanto a inovação não vem debaixo para cima, tem que chegar de cima para baixo. E seria preferível que chegasse da visão dos executivos e não de um contexto emergencial externo.
Muitas coisas já evoluíram de forma irreversível e não voltarão como antes do Covid 19. A imersão na tecnologia já migrou funções e atividades operacionais num contexto cada vez mais digital e remotizado. Mas o relacionamento presencial com os clientes certamente continuará e, no setor de telecom, será muito mais de consultoria, para propor ofertas e soluções que proporcionem a melhor experiência de uso para os consumidores.
A adoção em massa do home office nos leva a crer que o período pós-crise será marcado por uma consciência maior sobre a necessidade de equilibrar a vida privada e o trabalho. Qual é o valor de não perder tempo no deslocamento entre a casa e o escritório? Se pensarmos em um gasto de uma hora e meia, estamos falando, em média, de cerca de 10% das nossas vidas.
Para que esse novo ambiente de pessoas e máquinas trabalhando remotamente opere em seu pleno potencial, o 5G será o elemento essencial. Se a tecnologia já estivesse em uso, teríamos soluções de telemedicina ou de ensino a distância, duas das áreas de extrema importância. O 5G não é apenas um recurso para as operadoras de telecomunicações. É um fator habilitante para o crescimento da economia e o desenvolvimento de novos modelos de negócios. E, mais uma vez, a coragem digital irá se tornar determinante para iniciarmos uma nova era tecnológica.
- Este artigo foi redigido por Pietro Labriola, CEO da TIM Brasil.