Esterilização é um conceito absoluto, ou seja, o material está ou não está esterilizado. Portanto, não seria de todo correto afirmar que uma autoclave faça uma esterilização melhor do que outra. Mas, por que há tanta diferença nos preços das autoclaves das diferentes marcas e modelos?
Ué, da mesma forma que é verdade dizer que tanto um carro de R$ 30mil quanto um carro de R$ 300mil podem te transportar do Rio de Janeiro para São Paulo. Não é?
O que diferencia uma autoclave básica de uma autoclave top de linha é a tecnologia eletrônica embarcada, eficiência energética e a qualidade construtiva:
- A maior tecnologia eletrônica embarcada proporciona maior nível de controle e, consequentemente, de segurança no ciclo. Além disso, dá maior automatização ao processo, o que gera mais facilidade para o operador;
- A maior eficiência se configura especialmente pelo menor consumo de energia elétrica e de água;
- Já a qualidade construtiva reflete no nível de manutenção e durabilidade da máquina.
É por essas e outras, que especificar equipamentos médico-hospitalares não é uma tarefa muito fácil. Existem uma série de detalhes técnicos que se exigidos irão garantir maior durabilidade, economia e efetividade do produto. Caso tenha interesse, conheça outras importantes dicas para aquisições de equipamentos CLICANDO AQUI.
Pensando nisso, escrevi este post com algumas dicas bacanas sobre como especificar uma boa autoclave a vapor e que vão ajudar aqueles que estiverem participando da implantação de projetos de CME.
Claro que existem muitas variáveis, mas tentei enumerar aqui as que consideramos as mais importantes.
Mas queremos conhecer a sua opinião: E para você, quais são as características mais importantes para compra de autoclaves? Comente ao final deste post.
1. Características Gerais e Dimensionamento do Equipamento
A primeira etapa é definir qual será o tamanho, ou melhor, a capacidade de volume da câmara da autoclave (em litros). Mas para isso, precisamos antes estimar qual será o volume de material sujo produzido por dia pelo hospital.
Cada fornecedor possui um modelo matemático para este cálculo, mas em geral se faz necessário informar o número de salas cirúrgicas, ou o número esperado de cirurgias por dia, o número de leitos de UTI, número de leitos de internação, o número diário de atendimentos de emergência, dentre outros dados.
Quem quiser, temos uma planilha com modelo simplificado para estimar o volume de material sujo produzido diariamente: CLIQUE AQUI PARA BAIXAR
Depois disso, é preciso descobrir qual será o tempo de operação diário da Central de Material Esterilizado (CME), por exemplo, se será de 12, de 18 ou de 24 horas por dia.
Mas suponhamos que o cálculo de volume de material sujo produzido aponte 6.000 litros por dia, e que a CME irá operar por 12 horas diárias com 02 autoclaves. É certo dizer que cada autoclave deverá atender 3.000 litros em 12 horas.
Então, digamos que tenhamos as seguintes informações:
- 02 autoclaves;
- Cada uma com câmara de 450 litros;
- Aproveitamento da câmara de 85%, logo, volume útil de 382,5 litros;
- Tempo médio de ciclo de 50 min e tempo entre ciclos de 15 min para carga e descarga. Ou seja, 65 min para cada processamento.
Sabendo que temos 12 horas, ou seja, 720 minutos por dia, e descontando o tempo para o aquecimento da máquina fria (30 min) e descontando o tempo diário para o teste de Bowie & Dick (30 min), teremos apenas 660 minutos por dia disponíveis para a esterilização.
Se cada processamento levará em média 65 minutos, será possível realizar por dia no máximo 10 ciclos (660 / 65 = 10,15).
Logo, se sabemos que cada autoclave precisará processar 3.000 litros em 12 horas, e que neste tempo se fará no máximo 10 ciclos, é certo dizer que cada autoclave precisará ter pelo menos 300 litros úteis de capacidade:
3.000 litros / 10 ciclos = 300 litros úteis por ciclo.
Como no exemplo dado acima o fornecedor está ofertando uma máquina de 382,5 litros úteis, podemos dizer que o conjunto esta bem dimensionado. Isto, porque podem haver atrasos e imprevistos por falhas humanas ou da máquina e uma folga no dimensionamento é mais do que recomendado.
Se no exemplo acima a máquina poderá processar com 10 ciclos diários em torno de 3.825 litros (10 x 382,5) e se você precisaria de somente 3.000 litros por máquina, podemos dizer que está utilizando somente 78% da capacidade de cada máquina.
Aqui na EquipaCare, além da simulação acima, fazemos outras duas simulações: (1) Horário de Pico; (2) Situação de Manutenção.
- Horário de Pico:
Para não haver congestionamento, uma estrada não deveria ser dimensionada pela quantidade de carros que passam nela por dia, mas sim, na quantidade de carros que passam nela no horário de pico.
Da mesma forma, é bastante prudente verificar qual é o horário de pico da CME, o que está diretamente relacionado com a rotina de pico do centro cirúrgico.
Por exemplo, seguindo o mesmo exemplo lá de cima, digamos que você descubra que na realidade 75% do volume diário será processado em apenas 06 horas por dia. Ou seja, 2.250 litros em 06 horas.
Em 06 horas, que são 360 minutos, é possível de se realizar 05 ciclos. Mas com uma capacidade útil de 382,5 litros por ciclo, com 05 ciclos você conseguirá processar no máximo 1.912,5 litros
Ou seja, neste caso a “estrada” vai engarrafar, quer dizer, sua CME vai colapsar.
- Situação de Manutenção:
Autoclaves são máquinas que normalmente precisam de preventivas mensais, e mesmo com essas revisões vez ou outra quebram. Então, vale a pena simular como ficaria o hospital do cenário acima, caso estivesse com somente uma das máquinas funcionando.
Sabemos que precisam ser processados 6.000 litros por dia tendo apenas uma máquina com 382,5 litros de capacidade por ciclo em operação. Logo, sabemos que serão necessários 16 ciclos desta autoclave: [6.000 / 382,5 = 15,7]
Se cada ciclo, incluindo carga e descarga, leva 65 minutos, precisaremos de 1.040 minutos para 16 ciclos. E se temos ainda os procedimentos diários de Bowie & Dick e de aquecimento (60 minutos no total), podemos dizer que com apenas uma autoclave o hospital precisará de 1.100 minutos diários (1.040 + 60) para processar os 6.000 litros.
Ou seja, com um pouco mais de 18 horas de operação por dia, a mesma CME poderá atender com apenas uma autoclave o volume necessário.
Esta simulação é fundamental para definições de contingência, pois poderemos deixar definido que em caso de parada de uma das máquinas, a CME, ao invés de 12 horas, deverá operar por 18 horas.
2 – Câmara de Esterilização, Porta e Estruturas
A Câmara de Esterilização, é o “coração da máquina”. Nela que ocorre todo o processo de descontaminação do material com temperatura e pressão por meio de vapor saturado.
Para especificação da Câmara de Esterilização, nós aqui na EquipaCare observamos principalmente 03 características:
- Espessura da câmara interna e externa: Quanto maior a espessura maior a robustez. Este é um ponto de grande variação entre os modelos do mercado;
- Material de fabricação: A qualidade do aço inoxidável é fundamental para maior durabilidade da câmara – ainda mais pela variação da qualidade da água – então, o recomendável é que a câmara seja fabricada em AISI316;
- Pressão relativa nominal do projeto da câmara: Os vasos de pressão são projetados para suportar uma pressão acima da pressão de operação. Quanto maior a capacidade de suportar pressão, melhor indicativo de robustez;
- Garantia da câmara: tem marcas que oferecem 05, outras 10, ou ainda 15 anos de garantia na câmara. É claro que quanto maior melhor.
Quanto ao tipo de porta, em geral os modelos mais sofisticados de autoclave utilizam porta do tipo guilhotina (elevação vertical), que tem abertura automática facilitando o trabalho dos operadores. Outros modelos utilizam porta do tipo escotilha (volante central). Estas últimas dão um pouco mais de trabalho pros operadores, que precisam fazer alguma força para abrir e fechar girando a escotilha, mas por outro lado, têm menor custo e costumam dar menos manutenção.
Em relação ao material de construção da porta, aconselhamos que também seja do tipo AISI316. Já os painéis externos da máquina, na nossa opinião, podem ser do tipo AISI304.
3 – Gerador de Vapor e Sistema de Aquecimento
O processo de esterilização por vapor saturado sob pressão é o método mais utilizado pelos hospitais. Desses, somente uma pequena parte utiliza o vapor gerado por um sistema de caldeira central, pois na maioria dos casos, é utilizado um pequeno gerador de vapor integrado na própria autoclave.
E por ser um elemento fundamental ao processo, também requer alguns cuidados na sua especificação e em especial, com o material de construção. Sugerimos que, além de observar a espessura do reservatório de vapor, que seja solicitada a construção em aço inox AISI304 ou preferencialmente AISI316.
As máquinas melhor construídas utilizam AISI316 para construção tanto do gerador de vapor, quanto das resistências, no corpo da bomba de água e na válvula de segurança do gerador.
Outra questão bem interessante de se observar é quais sensores de segurança possui o sistema do gerador de vapor. Alguns modelos realizam a supervisão de controle com somente os sensores de pressão e de nível de água. Já outros modelos possuem, além desses dois sensores, o sensor de temperatura. Isto é uma vantagem, pois permite controle mais seguro contra sobrecargas que podem reduzir a vida ou queimar o conjunto de resistências.
4 – Bomba de Vácuo e Sistema Hidráulico
Existem no mercado equipamentos com diferentes tecnologias de bomba de vácuo, sendo que as mais utilizadas são as bombas de vácuo de anel liquido que podem ser de simples ou de duplo estágio. Também temos a opção de bombas de vácuo a seco.
Utilizar bomba a seco permite significativa economia de água, porém este tipo de equipamento possui custo de manutenção maior que a autoclave com bomba de anel líquido.
Para as bombas de anel líquido, é preferível que seja de duplo estágio pois apresentam maior velocidade. Além disso, vale a pena verificar se a bomba de anel liquido possui sistema de armazenamento de água para recirculação, o que permite economias de consumo de água na ordem de 15% a 20%.
Também recomendamos que seja verificado qual é o material de construção do sistema hidráulico. Algumas empresas apresentam tubulações e conexões fabricadas em materiais como cobre e latão, mas o melhor é que seja em aço inox.
5 – Sistema de Controle Eletrônico e Conectividade
O sistema controlador é um grupo de dispositivos eletrônicos que gerenciam o funcionamento da autoclave. Para isto, uma central microprocessada recebe os dados dos diversos sensores para controlar todas as etapas do ciclo.
Quanto mais tecnologia eletrônica embarcada, maior será o nível de controle e automatização, o que confere, respectivamente, mais segurança ao processo e mais facilidade ao operador.
Neste ponto há grandes diferenças entre os modelos de autoclave disponíveis no mercado. Claro que quanto mais tecnologia embarcada, maior será o custo do equipamento. Portanto é importante saber qual é a expectativa do hospital quanto ao nível de sofisticação e valor do investimento. Você pode encontrar várias dicas NESSE ARTIGO AQUI (clique no link) sobre planejamento de projetos hospitalares.
Mas quando se está comparando marcas e modelos de autoclaves, os itens abaixo devem ser avaliados:
- Tipo de controlador: pode ser com controlador lógico programável (CLP) ou com uma placa eletrônica específica. Consideramos o uso do CLP uma opção de menor custo para manutenção, pois permite a substituição de apenas um chip ao invés da placa inteira;
- Sistema redundante: algumas máquinas possuem dois sistemas de controle redundantes e independentes, ou seja, dois controladores cada um com seu conjunto de sensores. Nesta configuração os dados adquiridos por cada sistema são comparados e se houver qualquer discrepância, o sistema irá perceber e alarmar. É como se o próprio sistema se auto calibrasse. Isto aumentar muitíssimo o nível de confiabilidade da máquina;
- Número de ciclos pré-programados: facilita muito o trabalho dos operadores ter na autoclave algumas opções de presets de ciclos para diferentes tipos de materiais autoclaváveis. Algumas máquinas têm mais ciclos pré-programados que outras;
- Interface com usuário: um termo que está bastante na moda agora é *Usabilidade*, que define o qual fácil de utilizar é um equipamento. Neste aspecto é muito importante verificar como é a interface do sistema. Algumas máquinas têm displays touchscreen muito amigáveis, e com idioma em português.
- Conectividade: algumas autoclaves podem ser conectadas com sistema de gestão integrada da CME, exportando dados sobre cada etapa do ciclo em tempo real, e permitindo que o operador acompanhe os resultados e indicadores. Inclusive, permite obter informações se o equipamento está funcionando corretamente ou se é necessária manutenção.
Bem, conforme disse no início do artigo, são muitas as características que podem ser observadas na especificação de uma boa autoclave, mas selecionamos aqui as que consideramos mais relevantes.
E você? O que considera mais importante na escolha de uma boa autoclave? Deixe seu comentário!