De hackathons ao desenvolvimento de códigos fonte, a tecnologia atual pode ir de uma simples ideia à realidade em questão de horas. Pense no seguinte exemplo: Levou apenas 53 tentativas (ou nove meses), para que os desenvolvedores do game “Angry Birds” conseguissem um resultado bem sucedido. Este ritmo acelerado, marcado por tentativas e erros, e um modelo extremamente agressivo de exploração de novas tecnologias ainda contrasta com a disciplina das tecnologias desenvolvidas em gerações passadas. Ainda assim, ambos os métodos, antigo e novo, são igualmente importantes para o avanço da economia com ajuda da inovação. Duas indústrias onde consumidores e empresas requerem o desenvolvimento e a confiabilidade de métodos antigos, assim como os recentes benefícios da inovação acelerada, são os setores de serviços financeiros e saúde.
Então, como as empresas estabelecidas nestas duas indústrias conservadoras podem equilibrar uma metodologia tradicional e confiável à tecnologia de ponta e carregada de inovação, quando as apostas são tão altas?
Serviços financeiros
As fintechs (startups ligadas ao mercado financeiro) atualmente se valem da vantagem entregue pela capacidade da geração Z, que é nativa digital. De olho nos consumidores mais jovem, os tradicionais serviços financeiros e bancários estão sendo substituídos por alternativas mais modernas como o internet banking, o Apple Pay e outros meios de pagamentos pelo smartphone, além de soluções de pagamento do tipo peer-to-peer como a Venmo, além de financeiras criadas por meio de crowdfunding como é o caso da Lending Tree.
Inspirado em projetos recentes de software baseados em código aberto, as fintechs podem introduzir rapidamente novos modelos de negócios e já testá-los com pouquíssimo capital inicial. De acordo com o Chairman e CEO do conglomerado espanhol Banco Bilbao Vizcaya Argentaria (BBVA), Francisco González Rodríguez, a disrupção digital irá acabar com metade dos bancos que optam por não se modernizar. Os bancos tradicionais, ancorados por sistemas antigos de processamento de pagamento e custos gerais físicos, são desafiados a adotar a inovação fintech em suas organizações ou poderão se tornar irrelevante nos próximos 5 a 10 anos.
Blockchain, por exemplo, torna os contratos mais inteligentes e transparentes – e certamente revolucionará o setor bancário. Blockchains e registros distribuídos, no entanto, são caros de configurar e complexos para gerenciar. Eles também podem não fazer muito sentido para aplicativos já alocados em uma rede interna confiável. Mas com o blockchain, uma tecnologia em amplo crescimento e que deve representar globalmente mais de US$ 4 bilhões nos próximos oito anos, os bancos devem investir em plataformas de interoperabilidade, porque estas são capazes de assegurar que as tecnologias de ponta funcionem com os sistemas já existentes.
Indústria da saúde
Enquanto as organizações financeiras estão se afastando do modelo tradicional dos bancos, a saúde se move em direção aos cuidados médicos individualizados e de precisão. O Centro de Diagnósticos Integrados (CID, na sigla em inglês) do Hospital Geral de Massachusetts (MGH, na sigla em inglês), por exemplo, está ativamente acelerando os processos de inovação na área molecular.
A chamada “medicina de precisão” é uma abordagem em ascensão para o tratamento e a prevenção de doenças que considera a variabilidade individual dos genes, do ambiente e do estilo de vida de cada pessoa. No Hospital Geral de Massachusetts os tumores de pacientes são mapeados genotipicamente, em um esforço para combinar pacientes com testes em situações clínicas similares. Mais uma vez a interoperabilidade do sistema é fundamental para combinar os dados genéticos de inúmeros registros médicos, cadastrados em sistemas diferentes de Prontuário Eletrônico do Paciente (PEP).
A assistência médica depende do compartilhamento bem sucedido das informações entre uma rede complexa que inclui operadoras, médicos e prestadores de serviços de saúde independentes. E este não é um processo fácil, considerando que os pacientes mudam com certa frequência de operadora e de médico. Por isso os registros de saúde do paciente foram identificados como uma área de oportunidade para a implantação da tecnologia blockchain – semelhante ao uso de blockchain para a segurança bancária.
No futuro, será possível utilizar o registro de saúde de um indivíduo com dados da primeira até a terceira idade, armazenados no blockchain de um país inteiro, por isso, não importa qual médico ou rede preste os serviços, o registro seria, neste cenário, não apenas consistente, mas também completo, confiável e interoperável com sistemas tradicionais, resultando em uma maximização da qualidade dos serviços médicos prestados. E novamente a interoperabilidade de dados e sistemas continua a ser um critério fundamental para possibilitar soluções inovadoras na saúde.
Considerações finais
Nossa capacidade de consumir novas tecnologias alcançou um ritmo tal, que não dependemos mais de muitas gerações para adotar inovações que causem mudanças. Agora, em apenas uma geração, poderemos utilizar aplicações móveis para nos conectar ao banco para a realizar depósitos, wearables para prever quando teremos um problema de saúde ou sistemas de blockchain para fechar contratos inteligentes nos setores de finanças e saúde. À medida que essas oportunidades continuem a crescer, elas exigirão que organizações em todas as indústrias invistam a interoperabilidade para compartilhar dados em diferentes sistemas.
Julie Lockner é líder global de data plataforma e colaboradora do programa de marketing da InterSystems