Abertura do evento contou com discursos contundentes sobre a necessidade de aumentar a competitividade da indústria nacional
Na manhã desta segunda-feira, 5 de outubro, teve início o 4º CIMES (Congresso de Inovação em Materiais e Equipamentos para Saúde), organizado pela ABIMO (Associação Brasileira de Equipamentos Médicos, Odontológicos, Hospitalares e de Laboratórios). O evento se estenderá até esta terça-feira, 6, e acontece na capital paulista.
O congresso tem o intuito de fortalecer a inovação e a tecnologia no setor da saúde, além de propiciar um ambiente colaborativo maior entre o setor, as universidades, os institutos e o governo. A presente edição também discutirá as novas tecnologias em medicina e odontologia enquanto pesquisadores e representantes do setor debaterão melhorias nas políticas da saúde.
A abertura do evento contou com discursos contundentes sobre a necessidade de aumentar a competitividade da indústria nacional, sobretudo com mais exportações e investimentos em inovação. A conjuntura econômica atual também foi discutida entre empresários e representantes do setor.
“Sabemos as agruras que estamos passando [devido à crise econômica] no nosso país, com preços em queda, margens reduzidas e custos elevando-se diariamente, além de inadimplência. E, sobretudo, estamos perdendo as importantes conquistas obtidas nos últimos anos, como a desoneração sobre a folha de pagamentos e o uso do benefício da Lei do Bem. É um ano triste para um setor que vem investindo, acreditando e fazendo a sua parte, inclusive na balança comercial”, discursou o presidente da ABIMO, Franco Pallamolla, na abertura do Congresso.
Mas, segundo ele, foi exatamente por esse cenário ácido e pessimista que a ABIMO convenceu-se de que era necessário trazer para o CIMES 2015 uma mensagem de otimismo e criar novamente uma agenda positiva absolutamente factível para o setor.
Representando a Apex-Brasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos), o diretor de negócios, André Fávero, disse que a agência é uma importante aliada dos empresários no sentido de ampliar as exportações de produtos brasileiros: “No Brasil é natural que as empresas exportadoras sejam as que mais inovam. Precisamos estimulá-las a exportar continuamente, não somente quando o dólar está em alta, ou quando o mercado interno está desaquecido”, frisou o representante da Agência.
Na sequência, Wilson Chediek, presidente da Comissão da Ética do CROSP (Conselho Regional de Odontologia de São Paulo), discursou em prol do fortalecimento de parcerias entre entidades, empresas e governo. “Nessa época de crise é quando temos que nos unir e pensar em como sair dela. Esperamos ter uma indústria cada vez mais forte e ampliar nosso mercado de trabalho, não só na iniciativa privada, mas também para o governo, para levar à população o que há de melhor em tecnologia na área odontológica”, disse.
Em sua fala, Valdênio Araújo, representando a ABDI (Associação Brasileira de Desenvolvimento da Indústria), lembrou que o foco da entidade é fomentar a inovação e a tecnologia nas empresas brasileiras, sobretudo para fazê-las competir com mais força internacionalmente. “Precisamos ter em mente que, embora tenhamos questões de infra-estrutura, energia e telecomunicação para melhorar, se quisermos equiparar nosso nível de competitividade com empresas do exterior, o que fará a diferença será o conhecimento da área, e vamos necessitar desse conhecimento para fazer a inovação e a diferença. Inovação e tecnologia são onde aplicaremos esforços, pois existe limitação financeira, e temos que escolher quais produtos vamos aproveitar. Comércio exterior é o foco, mas o mercado interno e a evolução incremental de tecnologia existem para manter esse modelo competitivo”, afirmou.
Também presente no discurso de abertura, Pedro Ivo Ramalho, adjunto de diretor da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), lembrou a necessidade de fortalecer o setor como um todo, propiciando maior agilidade na regulação. “A Anvisa tem a perspectiva do ponto de vista do setor de produtos de saúde de fortalecer as relações com entidades da área. Além disso, há iniciativa de fortalecer o setor como um todo, participando fortemente das atividades que envolvem o complexo industrial da saúde. Nosso processo de gestão interno para equipamentos de saúde hoje tem cumprido seus prazos de análises de processos e registros, apontando para o próximo período um esforço em boas práticas para que possamos ter um ambiente regulatório mais previsível, estável e produtivo por parte das empresas.”
A abertura seguiu com a fala do representante do Ministério da Saúde, Eduardo Jorge, que ressaltou que o assunto inovação é recente e recorrente no país, mas que a cultura de inovar ainda não está intrínseca na cabeça do brasileiro. “Inovar, debater como inovar e como melhorar a cadeia produtiva pode novamente promover o desenvolvimento desse setor que é tão importante, que movimenta 10% do PIB”, disse. “Fóruns como este são muito importantes para que o governo identifique onde deve melhorar.”
Por fim, o presidente do Sinaemo (Sindicato da Indústria de Artigos e Equipamentos Odontológicos, Médicos e Hospitalares do Estado de São Paulo) e coordenador titular do BioBrasil/Fiesp (Comitê da Cadeia Produtiva da Bioindústria/Saúde e Biotecnologia da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Ruy Baumer, fez coro à necessidade de maior participação das empresas brasileiras fora do país, tendo a premissa da inovação como fundamento para fomentar as exportações.
“Temos que ser inovadores para competir não somente no Brasil, mas também no exterior”, disse. “Devemos levar em consideração que o setor de produtos médicos, ao contrário do farmacêutico, por exemplo, é muito pequeno, com a exceção da odontologia [segundo maior do mundo] e, portanto, nosso foco deve ser o mercado internacional, como vários países menores já fazem: criam os seus produtos e os desenvolvem buscando o mercado internacional.”
Assim como o presidente da ABIMO, Baumer também criticou a queda das medidas de fomento à indústria da saúde e a falta de diálogo com o setor: “Além de todas as medidas anunciadas anteriormente terem sido canceladas, as taxas regulatórias diretamente ligadas à inovação aumentaram 200%, sem qualquer estudo de impacto, tanto em grandes como em pequenos negócios”.
Para o presidente do Sinaemo, até mesmo a escolha dos dois ministérios que mais afetam a indústria de equipamentos médicos [da Saúde e da Ciência e Tecnologia] não levou em consideração o crescimento do setor.
Baumer frisou também que o Brasil não está acostumado a buscar parcerias, nem dentro e nem fora do país, e que a prática deve ser fomentada, inclusive entre concorrentes. “Isso é um costume no mundo todo. Empresas se juntam para viabilizar um produto único, com vantagens para ambos.”
Finalizando, ele ressaltou que se é na dificuldade que ocorrem as maiores inovações, não é hora de esperar pelo governo: “Faremos nossa parte por nossa conta. Temos que ser inovadores para sair da crise que, apesar de não termos causado, com certeza pagaremos a conta”, finalizou.
A programação do CIMES prossegue durante toda à tarde desta segunda-feira e durante todo o dia de amanhã.