Os centros de cuidados aos pacientes podem ser vistos hoje como uma evolução na atenção dispensada aos pacientes e familiares em todos os estágios do processo de cuidado. No entanto, para Paul vanOstenberg, conselheiro sênior da Joint Commission International (JCI) para crescimento global e inovação, esse núcleo é mais um item na melhora da qualidade e segurança do paciente do que uma estratégia das organizações de saúde: “Isso significa que, há um aumento de oportunidades para os pacientes e seus familiares para que eles possam atuar diretamente em torno de suas necessidades e não da doença ou das preferências do médico. Existem estratégias para gerenciar essas mudanças e fazer isso acontecer, mas não as vejo como uma estratégia hospitalar”.
Doutor em Cirurgia Dental pela Faculdade Médica da Virgínia, em Richmond, Virgínia, e mestre em Gerontologia e Administração da Saúde pela Universidade Commonwealth da Virgínia, vanOstenberg estará no Brasil para a conferência Cuidados Centrados no Paciente, que faz parte da programação do III Congresso Internacional de Acreditação, que acontece de 20 a 23 de setembro, no Rio de Janeiro. Segundo ele, um dos principais pontos a serem observados para tentar equilibrar as necessidades dos pacientes e a realidade dos hospitais, de profissionais de saúde, novas tecnologias e capacidade técnica é quebrar a barreira das velhas práticas. “A barreira primária para os centros de cuidados aos pacientes é o comportamento humano e os processos que ainda são feitos de forma antiga. Tecnologia e instalações e outros fatores são os que contribuem menos para essa mudança”, afirma.
De acordo com o consultor da JCI, se um médico nunca tem tempo de perguntar ao paciente os objetivos que devem alcançar para esses cuidados, e se os processos eletrônicos e formulários não têm espaço para registrar como será conduzido esse cuidado ao paciente, significa que o paciente nunca será incluído nesse processo de cuidado. “Isto é um problema ainda mais grave com os pacientes que têm várias doenças crônicas, como diabetes, insuficiência cardíaca e hipertensão. Se o paciente vê um médico diferente, em um departamento diferente, em dias diferentes, cuidando de cada uma dessas doenças crônicas, faltará integração nesse cuidado e cada um desses médicos pode não saber as escolhas e os objetivos desse paciente para seus cuidados.
Um dos aspectos mais importantes a ser observado para alterar esse comportamento está justamente na mudança de postura do profissional, que atua diretamente com o paciente. Ainda de acordo com vanOstenberg, enquanto pacientes e familiares estão cada vez mais bem informados de suas doenças e opções de cuidados, os profissionais de saúde não conseguem deixar claro suas preferências e metas para o processo de cuidado ao paciente. “A não ser que o profissional de saúde faça questão de entender as metas, os objetivos e as preferências do paciente e da família, essas nunca fazem parte do processo”, ressalta, acrescentando que esse passo não é apenas uma discussão de diferentes pontos de vista, mas a respeito dos objetivos de ambas as partes.
Embora a JCI não descreva os padrões para o funcionamento de um centro de cuidados ao paciente, a entidade frisa em seu manual e padrões dois aspectos que devem ser levados em conta: o respeito ao paciente e suas preferências (direitos do paciente) e o consentimento informado. “Mesmo que isso seja bem feito, o cuidado ainda é organizado em torno da doença e não em torno do paciente ou dos familiares. Neste ponto, a JCI está procurando incluir integralmente os elementos essenciais do cuidado centrado ao paciente na próxima edição do Manual de Padrões Internacionais de Acreditação para Hospitais”, adianta.
Segundo vanOstenberg, os padrões da JCI não funcionam como força-motriz essencial nos hospitais, no que diz respeito aos centros de cuidados aos pacientes. O que acontece é que os hospitais estão aprendendo uns com os outros, por meio de grupos profissionais, a partir de iniciativas de melhoria de qualidade e, em alguns casos, até por meio de órgãos governamentais e não-governamentais. “Há certos elementos do cuidado ao paciente que são mais de natureza cultural e, portanto, diferentes modelos estão surgindo em diferentes culturas”, avalia.
Embora não seja profundo conhecedor do cenário brasileiro, vanOstenberg arrisca dizer que uma das medidas seria se valer da cultura acolhedora brasileira para moldar um centro de cuidado ao paciente. O especialista frisa, porém, que o desafio é fazer com que essa mudança atinja todos os departamentos, e não apenas alguns dos profissionais de saúde, ou seja, a forma como todo o hospital pensa e opera. “Isso significa um compromisso da liderança para avançar nessa direção e encontrar espaço junto com outros desafios. Eu acredito que essa transformação ocorre em um hospital em um tempo e não pode ser legislada ou regulada”, afirma, acrescentando que entre os benefícios estão pacientes mais felizes, mais satisfeitos e equipes juntas. “Uma comunidade que reconhece esse compromisso com os pacientes, a diferencia de outros hospitais. Estas vantagens são as mesmas para hospitais públicos e privados, não é propriedade de um ou de outro”, comenta.
De acordo com o vanOstenberg, a abordagem ideal seria reconhecer o centro de cuidado ao paciente já no currículo da educação profissional de saúde e reforçar esses preceitos em todo o treinamento clínico. Embora, segundo ele, a realidade seja diferente em muitas unidades, para muitos profissionais e familiares, a boa notícia é que as sociedades profissionais de saúde estão começando a fazer mudanças e definir políticas que apoiam o centro de cuidado ao paciente.
Se você tem interesse em saber mais sobre o tema, inscreva-se no III Congresso Internacional de Acreditação e assista a conferência Cuidados Centrados no Paciente, com Paul vanOstenberg. Mais informações e inscrições em www.cbacred.org.br. Informações também podem ser obtidas através dos emailseventos@cbacred.org.br e secretaria.eventos@cbacred.org.br ou ainda pelos telefones (21) 3299-8241, (21) 3299-8202 e (21) 3299-8243.