O país conta com políticas públicas e financiamento que estimulam a inovação; possui empresas interessadas em investir no país; tem universidades e centros de excelência aptos a realizar pesquisas de ponta. Porém, ainda esbarra em barreiras regulatórias e industriais que dificultam a produção e incorporação de tecnologia médica no país e maior competitividade do setor no comércio global.
Em debate realizado no dia 20 de maio no painel “Caminhos para acelerar a inovação de produtos para a saúde no Brasil”, promovido pela ABIMED-Associação Brasileira da Indústria de Alta Tecnologia de Equipamentos, Produtos e Suprimentos Médico-Hospitalares, representantes dos setores público e privado e da academia apontaram três estratégias para tornar o país mais inovador: maior aproximação entre universidades e indústrias; aumento das parcerias produtivas entre setor público e iniciativa privada e políticas de estímulo à produção local e às exportações. O debate foi moderado pelo jornalista William Waack.
Gilberto Peralta, CEO da GE do Brasil, disse que o país pode se tornar uma plataforma de exportação, apesar das dificuldades com infraestrutura, leis trabalhistas, burocracia e impostos elevados. Citou como exemplo a própria empresa que, em 10 anos, passou de importadora a exportadora de produtos de saúde.
Para Roberto Fendt, Diretor Executivo do CEBRI – Centro Brasileiro de Relações Internacionais, devido ao grande volume de compras que realiza, o SUS (Sistema Único de Saúde) pode se tornar um grande indutor de inovação tecnológica no país. Destacou, no entanto, que a inovação depende de um ambiente favorável, de políticas públicas que abram a economia, aumentem a inserção do Brasil nas cadeias produtivas globais e incentivem empresas de alta tecnologia a se instalarem no país.
“Nenhum país hoje no mundo fabrica 100% do que produz. Precisamos ampliar o mercado com países vizinhos e buscar uma convergência com suas leis e regulações, adotar políticas que facilitem as exportações e tornem o país mais competitivo no cenário internacional. Caso contrário, vamos continuar exportando produtos de baixo valor agregado”, analisa.
Segundo Saide Calil, professor titular do Departamento de Engenharia Biomédica da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação da UNICAMP, o problema da inovação não é de financiamento. Disse que o estado de São Paulo, por exemplo, investe mais do que a Espanha e Itália em pesquisa e desenvolvimento. A principal dificuldade, a seu ver, é o descompasso entre o tempo que as universidades levam para realizar pesquisas e a necessidade da indústria de que seu projeto seja desenvolvido em curto prazo.
“Os caminhos já estão traçados. Existem políticas públicas bem dirigidas para a inovação e financiamento. Agora, precisamos melhorar a qualidade dos projetos e, principalmente, buscar maneiras de aumentar a aproximação entre universidades e indústrias”, propôs.
Flávio Vormittag, presidente da FURP – Fundação para o Remédio Popular afirmou que a FURP tem realizado parcerias bem sucedidas com a iniciativa privada para a produção de DIU (Dispositivo Intrauterino) e aparelhos auditivos dirigidos ao mercado público e filantrópico. Atualmente, a FURP participa de 16 PDPs (Parcerias para o Desenvolvimento Produtivo) com empresas, 10 para fabricação de medicamentos e seis para produtos para a saúde.
“Este processo tem sido extremamente importante para o avanço tecnológico da FURP. A área pública e a privada são complementares e a saída para acelerar a inovação está em criar caminhos compartilhados entre as duas esferas”, ressaltou.
De acordo com Carlos Goulart, presidente-executivo da ABIMED, o Brasil reúne condições favoráveis à inovação: tem financiamento e políticas industriais que estimulam a inovação; continua a ser um país atrativo para empresas investirem na produção local e exportação. Possui universidades de excelência que geram conhecimento e tecnologia. A saída, a seu ver, está em unir as três esferas em um esforço conjunto para acelerar a inovação. Mas faz uma ressalva: o sucesso do país passa pela remoção dos obstáculos que o impedem de ser mais competitivo.
“É necessário agilizar as questões regulatórias para acelerar a introdução e incorporação de novas tecnologias no país, aumentar a inserção do Brasil no comércio mundial e resolver os problemas – como os de infraestrutura deficiente, impostos elevados e excesso de burocracia – que prejudicam a competitividade do país”, afirma.