Equipe de pesquisadores da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto (FORP) da USP acaba de criar um banco de dados com imagens faciais de brasileiros. O trabalho, liderado pelo professor doutor Marco Antônio Moreira Rodrigues da Silva, utiliza tecnologia 3D, Equipe da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto usa tecnologia em 3D, que capta imagens mais fidedignas utilizando uma metodologia não invasiva.
Quando concluído, garante o professor, deverá colocar à disposição dos profissionais de saúde um sistema padronizado (banco de imagens faciais) para auxiliar nos tratamentos, tanto estéticos quanto de problemas bucomaxilofaciais.
O projeto piloto, com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), começou em 2011, mas os experimentos e a coleta de dados ocorreram a partir de 2012 com a chegada dos equipamentos necessários para o desenvolvimento do estudo.
Utilizando “o método mais promissor de avaliação dos tecidos moles”, segundo o professor, a estereofotogrametria, a equipe da USP Ribeirão capturou, simultaneamente, imagens digitais em 3D de vários ângulos, de 60 adultos jovens e saudáveis. A amostra foi composta por 30 homens e 30 mulheres com idade entre 18 e 30 anos, escolhidos aleatoriamente, independente da região de origem, “pois essa separação será realizada na próxima fase do trabalho”, conta o pesquisador.
Para capturar as imagens, foram testadas várias técnicas, mas a escolhida e comprovada pelos pesquisadores foi a estereofotogrametria que ofereceu medidas lineares, angulares e de área, confiáveis e com excelência para os critérios científicos. O equipamento utilizado foi o Vectra M3.
O método utiliza um grupo de seis câmeras que conseguem capturar imagens faciais num tempo muito rápido, o que reduz o efeito de movimentos do paciente, sem necessidade de contato com a superfície da pele. Pelas características da tecnologia, “o software do equipamento é capaz de produzir uma imagem digital tridimensional sem erros de mensuração”.
O resultado foi a obtenção de “marcações de medidas cranianas em tecido mole”, resultado da avaliação das imagens em 3D capturadas pela nova técnica, inédita no Brasil. Trinta e um pontos de referência (landmarks) foram utilizados para as medidas, em milímetros, de 42 distâncias. Essas informações, lembra o professor, começam a traçar o perfil facial do brasileiro.
Ainda, segundo o professor, através da imagem 3D, são determinadas diferenças na morfologia facial de diferentes populações. A média das medidas da imagem 3D da face representa a morfologia facial de tecido mole de adultos e “pode ser usada para assessorar o diagnóstico e o tratamento em pacientes de cada país, mostrando as singularidades de cada população quanto as suas estruturas de tecido mole, e pela tradicional normativa pode ser alterada e usada por grupos específicos”.
Benefícios em longo prazo
Os pesquisadores asseguram que a “elaboração e validação da correspondência entre as reconstruções em 3D dental e facial, em pessoas saudáveis, bem como a análise entre as distâncias entre o plano oclusal e os arcos faciais demonstraram que o método poderia ser usado para monitorar longitudinalmente a evolução de tratamentos ortodônticos ou ortopédicos”. Isso, sem manobras invasivas e exposição ao raio-X, por exemplo. Além do fato dos cirurgiões-dentistas terem acesso a informações em tempo real.
A face humana, dependendo de etnias e povos, apresenta características próprias para oclusão dental e medidas da face. Mas, apesar da miscigenação de raças do Brasil, “cada região do país tem características peculiares que possibilita a padronização de medidas lineares e proporções através da imagem 3D”, adianta o professor.
Os avanços proporcionados por tecnologias como a que está em uso pela FORP deve ajudar na padronização de perfis faciais do brasileiro no campo odontológico. “O uso de imagem 3D”, para essa finalidade, ainda requer muitos estudos, pois é pioneiro no Brasil. “Inicialmente devemos regionalizar os dados”, para posterior comparação entre as regiões do país, e disponibilizar esse banco de dados para comparação internacional.
Os resultados apresentados até o momento pela equipe da USP de Ribeirão são apenas o início das pesquisas do grupo. O objetivo deles é ampliar o banco de dados que iniciaram, inclusive, “trabalhando a miscigenação brasileira, com grupos de diferentes origens”. Marco Antônio afirma também que, o propósito do grupo de ampliar a amostra deve se estender a informações de “sujeitos submetidos a procedimentos na área de cirurgia ortognática, ortodôntica, reabilitações orais, coletando dados antes e após os diversos tratamentos”.