A fadiga de alertas continua sendo um dos maiores obstáculos na adoção de soluções de apoio à decisão clinica no momento do atendimento ao paciente. Existe uma batalha contínua entre profissionais da saúde e a sobrecarga de informação, caracterizada pela emissão desordenada de alertas – muitas vezes irrelevantes para o cuidado daquele paciente – por parte dos prontuários eletrônicos dos pacientes (PEP) e outros sistemas clínicos.
Um recente estudo detectou que erros médicos são a terceira causa de morte, nos Estados Unidos, sendo responsáveis anualmente por 250 mil óbitos. Esse montante inclui os incidentes associados à medicação, como por exemplo, erros de dosagens, interações medicamentosas, duplicações de drogas ou alergias a algum medicamento.
De maneira geral, o papel que as ferramentas de apoio à decisão podem ter nos cuidados com a saúde já é percebido. Por emitirem avisos, que são recebidos pelos médicos à beira do leito, os sistemas efetivos de suporte a decisão são a esperança no sentido de ajudar a reduzir a incidência de erros. Porém, o elevado volume de alertas ou de falsos positivos, conhecido como fadiga de alertas, tende a tirar a atenção dos médicos para as informações que poderiam ser úteis, especialmente em casos que requerem uma intervenção clínica.
A boa notícia é que existem progressos por parte da indústria para combater a fadiga de alertas por meio de uma abordagem mais holística. Os modelos em desenvolvimento buscam balancear a qualidade do conteúdo que trazem com aspectos técnicos, como formato, onde são exibidos e como são incorporados ao fluxo de trabalho. Melhorar o nível de especificidade dos alertas permite estabelecer conexões mais significativas entre a base de conhecimento sobre os medicamentos e o prontuário eletrônico do paciente (PEP), o que por sua vez possibilita a criação de avisos mais relevantes e inteligentes, levando em consideração tanto o contexto do paciente como as preferências do médico.
Encontrar o ponto de equilíbrio no que diz respeito ao volume de alertas a serem exibidos tem sido um objetivo perseguido com muito afinco pelos fornecedores de PEP e de suporte à decisão clínica. Afinal, harmonizar a segurança do paciente e a importância clínica dos alertas com a capacidade do médico de consumir informação é uma tarefa subjetiva e complexa. Porém, uma saída que tem apresentado resultados promissores para lidar com a problemática da fadiga é uma opção oferecida por alguns fornecedores que permite aplicar classificações e orientações baseadas em evidências para filtragem e definição de parâmetros de exclusão.
Na organização de saúde americana, Group Health Cooperative (GHC) do South Central Wisconsin, o uso de mecanismos de filtros para melhorar a lógica do alerta provou ser uma estratégia eficaz. A instituição utiliza sua solução de referência de medicamentos para classificar as interações por gravidade, atribuindo uma pontuação – que varia entre um e cinco – de acordo com a significância de cada alerta, o que é definida com base em evidências. Neste caso, as indicações de “um” ou “dois” são apoiadas por evidências de credibilidade e apontadas como interações “suspeita” ou “provável”. Além disso, a GHC tem utilizado seu sistema de suporte à decisão de prescrição de medicamentos para configurar os filtros para ativar apenas os alertas com pontuações mais significativas (um ou dois), reduzindo assim o número de disparos de 87% para 27%. Antes, os médicos recebiam em média 143 alertas, a cada 100 prescrições. Após 14 dias de utilização do sistema, este volume, levando em consideração o mesmo número de pedidos, reduziu-se a 52. As taxas de substituição dos médicos diminuíram entre 95% a 100% em um período de 60 dias.
O MetroHealth System, localizado em Ohio, também nos Estados Unidos, embarcou em uma iniciativa similar, porém com foco exclusivo na dosagem de medicamentos. Uma análise prévia revelou que os alertas eram disparados em 13% das prescrições, volume este que, na verdade, poderia ser evitável devido à preponderância de alertas de baixo risco. O PEP foi integrado à base de conhecimento de medicamentos e foram aplicados filtros para eliminar os alertas normalmente considerados clinicamente insignificantes. Apresentando apenas os alertas de dosagem que poderiam causar danos ao paciente, o volume de disparos reduziu-se em cerca de 80%. Como o feedback dos usuários foi incorporado nesse processo, os alertas como um todo ficaram abaixo do limite de 3%.
Esses exemplos mostram que customizar as ferramentas baseadas em evidência pode funcionar melhor do que usar soluções de mercado prontas. Essas medidas adotadas podem ser espelhadas em outras instituições que também necessitam combater a sobrecarga de alertas e modificar a lógica. Porém, antes de tudo é preciso ter clara a ideia de que os ambientes clínicos se diferem entre si, bem como as prioridades e relevância dos alertas variam de acordo com a configuração. Não existe uma abordagem única que possa ser usada em âmbito global. Mas, as considerações de alto nível para implementar uma estratégia mais holística de fadiga de alerta incluem:
- Contar com o apoio de um sistema de prontuário eletrônico controlável pelos usuários;
- Empregar estratégias de design na apresentação dos alertas que valorizem a percepção humana;
- Ao personalizar os sistemas de alerta, levar em consideração análises contínuas do perfil dos pacientes e dos fluxos de trabalho clínicos;
- identificar e implantar alertas contextuais ou em camadas com base nos dados do paciente, como, por exemplo, idade, peso, gênero, função renal, entre outros;
- Realizar manutenção e atualizar o conteúdo clínico com frequência para garantir evidências mais atuais no momento do atendimento.
Os alertas disponibilizados pelos recursos de apoio à decisão são extremamente vantajosos. Quando realmente se compreende as múltiplas facetas que envolvem a otimização dos alertas torna-se totalmente possível aprimorar a segurança do paciente e tirar o máximo de proveito do elevado potencial que apresentam no sentido de ajudar os médicos a proverem melhores cuidados aos pacientes.
* Shobha Phansalkar, RPh, PhD, diretora de informática e inovação clínica na Wolters Kluwer Health