Ainda pouco explorada no setor de saúde brasileiro, a modelagem ou análise preditiva permite identificar populações que terão maior necessidade de intervenção médica ou demandas de saúde no futuro. Essa metodologia, segundo especialistas, se bem aplicada, pode impactar positivamente a gestão de saúde de determinadas população, direcionar melhor os investimentos e até as estratégias de negócios e assistência das instituições de saúde.
Longe de ser um método de “adivinhação”, a análise se baseia em um grande volume de dados, estatísticas e algoritmos desenvolvidos para detectar tendências ou encontrar padrões de comportamento. A metodologia pode também ser aplicada em diversas situações, no campo assistencial, por exemplo, a técnica pode determinar a probabilidade de um paciente ser reinternado, de acordo com seus fatores de risco. No campo administrativo, baseando-se em dados de sinistros, é possível criar um ranking de pessoas que podem gerar alto custo no futuro e, para evitar isso, estabelecer programas de assistência primária ou programas de prevenção.
O maior impacto é a possibilidade de realizar previsões para hierarquizar o cuidado. Do ponto de vista de custo, como geralmente não há recursos para investir em tudo, é necessário priorizar o investimento.
Além disso, é muito importante que quem for usar o modelo preditivo conheça muito bem o seu negócio, porque o método não é bola de cristal. Ele responde perguntas específicas, é uma metodologia e tem base estatística. É essencial saber que pergunta se quer respondida e aproveitar os dados disponíveis para responder essa pergunta.
De acordo com a diretora de produtos da Healthways, multinacional desenvolvedora programas de gestão de saúde e bem-estar, Ana Cláudia Pinto, um dos desafios em saúde é saber o que deve ser priorizado e a modelagem preditiva oferece essa hierarquização para identificar e evitar problemas futuros com maior precisão. “Ao aplicar o método e definir um grupo de pessoas que necessitam de intervenção em curto prazo, as empresas podem investir em ações específicas e evitar custos futuros desnecessários, além da complicação de doenças crônicas.”
A executiva ressalta ainda que o método responde uma pergunta de cada vez, como, por exemplo: quais são as pessoas que têm alto risco de gerar custo nos próximos 12 meses?. Os resultados desse questionamento dividem o grupo de pessoas pesquisadas em segmentos, para se aplicar o recurso correto a cada um deles. “Temos recursos limitados e precisamos entender em que pessoas podemos fazer uma ação de cuidado mais intensiva, para evitar cuidados maiores depois, tanto no ponto de vista de custos como no de melhoria de saúde e qualidade de vida”, completa Ana Cláudia.
Brasil
Mesmo tímida no setor de saúde brasileiro, essa tecnologia vem ganhando espaço mas ainda enfrenta problemas como a qualidade dos dados gerados e disponibilizados para análise. “Em um exemplo, preparamos uma base de dados e, por meio dessa base, aplicamos o know-how trazido de países no exterior. São necessárias algumas adaptações para poder utilizar o método, mas é totalmente possível”, acrescenta a executiva.
Segundo Ana Cláudia, há um interesse muito grande em análise preditiva para o segmento. “As pessoas estão começando a perceber que isso existe, mas ainda há muitas dúvidas em relação ao que a modelagem preditiva pode proporcionar à saúde e como essa metodologia pode ser aplicada. É importante destacar que ela é mais um elemento para beneficiar a área da saúde, não pode ser vista de maneira isolada. O sucesso é saber administrar todos os recursos disponíveis e utilizá-los em conjunto, para tirar o melhor resultado no final.” A metodologia já é amplamente utilizada em países como os Estados Unidos, possuindo diversos trabalhos publicados em revistas cientificas que validam sua eficácia.