Os olhos do mundo se voltarão para a maior disputa de esportes do mundo neste mês. Como é habitual para o espetáculo esportivo que acontece a cada quatro anos, ele traz consigo uma grande dose de compromisso, alegria, exuberância e realidade para o país anfitrião.
Para o Brasil, essa é uma chance única de mostrar o que tem de melhor — sua energia e confiança — mas também uma oportunidade de pensar nos desafios que enfrenta, especialmente na área da saúde.
Segundo uma publicação conjunta da Organização Pan-Americana da Saúde, Organização Mundial da Saúde e Banco Mundial, desde o início dos anos 2000, a América Latina e o Caribe vivenciaram progressos importantes em direção à abrangência universal da saúde, com mais de 46 milhões de pessoas em nove países obtendo minimamente garantias nominais de assistência médica acessível.
Desafios de saúde regionais
Nas diversas regiões da América Latina, governos tentam melhorar os sistemas de saúde com orçamentos apertados e condições globais difíceis.
De acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS) e o Banco Mundial, as doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), que representam a maior parte das mortes na região, não recebem a atenção necessária.
Apesar da expansão da abrangência e do acesso aos serviços de saúde aos cidadãos, as pessoas de baixa renda permanecem extremamente carentes: cerca de 30% da população da América Latina e do Caribe não tem acesso à assistência médica por motivos econômicos, e 21% em virtude de barreiras geográficas, de acordo com o World Economic Forum.
Além disso, o país enfrenta uma escassez crônica de profissionais de saúde: em 2015, havia apenas 1,95 médicos para cada mil habitantes.
Os dados explicam a baixa confiança no sistema de saúde: de acordo com uma pesquisa de 2013 do instituto de pesquisas Datafolha, 48% dos entrevistados colocaram a saúde acima de educação, corrupção, violência e desemprego como o maior problema do Brasil.
Desempenho do Brasil na pesquisa Future Health Index
Lançamos recentemente os resultados da primeira edição da pesquisa Future Health Index (FHI), um amplo estudo internacional que analisa a percepção dos sistemas de saúde entre pacientes e profissionais de saúde de 13 países, e como os países se posicionam para atender aos desafios de saúde globais de longo prazo por meio da adoção e integração de tecnologias conectadas.
Então, o que soubemos com o FHI? O Brasil se classificou em 12º de 13 países analisados, influenciado principalmente pela baixa pontuação no acesso à assistência comparada aos outros países, a pior pontuação do quesito no estudo.
Somente 12% dos pacientes e 2% dos profissionais concordam que os serviços de saúde disponibilizados atendem às suas necessidades, e os pacientes tendem a concordar que o sistema de saúde privado do Brasil atende melhor às suas necessidades médicas do que o sistema público.
O papel do PPP
As soluções não são fáceis. Maior financiamento público e mais eficiência são vistos como formas de expandir o acesso à saúde para lidar com o rápido envelhecimento da população e o crescente peso das doenças crônicas não transmissíveis.
Embora alguns mercados da América Latina tenham aprimorado a prestação de serviços de saúde na última década, estamos convencidos de que é preciso promover uma transformação radical dos sistemas de saúde para alcançar eficiência e acesso igualitário.
A necessidade de mais eficiência nos sistemas de saúde de todas as regiões, não apenas do Brasil, também significa avaliar soluções conectadas e o papel que a inovação precisa desempenhar no acesso à assistência médica em todas as suas formas.
Isso estende-se a novos modelos colaborativos, como parcerias público-privadas (PPPs), que estão sendo usadas amplamente nos serviços de saúde em toda a América Latina, para permitir que o setor atenda às necessidades e demandas de saúde futuras, além de estimular inovações que possam impactar a vida dos latino-americanos.
Em virtude da complexidade dos sistemas de saúde, é fundamental que todas as transformações sejam feitas por parcerias e baseadas na inovação. Uma das recomendações feitas em um recente relatório da PwC sobre a PPP na América Latina citou que um aprendizado valioso foi saber que os equipamentos médicos e a TI devem ser vinculados a PPPs por todo o tempo do contrato.
A Philips participa de uma parceria público-privada no estado da Bahia, que realiza 183 mil exames por ano em toda a rede pública estadual, com custo inferior ao atualmente oferecido pelo sistema público. A parceria atende 11 hospitais e foi formada há mais de dez anos, com investimento de 1 bilhão de reais. Embora seja muito gratificante ver estes resultados, o cenário das PPPs ainda é incipiente no Brasil, embora esperemos ver grandes avanços nos próximos anos.
Agora, já foi dada a largada para a maior competição esportiva do mundo. Enquanto admiramos as maravilhosas conquistas do esforço atlético humano, não podemos ignorar os enormes desafios que permeiam a América Latina na reforma contínua dos sistemas de saúde para melhor atender a população.
Daniel Mazon é Vice-presidente sênior da Philips Healthcare para América Latina.