Mapeamento sobre o grau de maturidade em compliance das empresas brasileiras será o primeiro estudo realizado em conjunto entre as instituições
Diante do atual cenário político-econômico em que o Brasil se encontra, é evidente a crescente demanda por discussões de temas que refletem sobre conceitos e condições de ética e compliance no setor. Programas que defendem a transparência nas atividades institucionais têm se mostrado cada vez mais eficientes para garantir, por exemplo, a competência técnica com boa gestão de custos.
Claudia Scarpim, diretora de Relações Institucionais da Abimed (Associação Brasileira da Indústria de Alta Tecnologia), ressalta o momento delicado que a saúde brasileira está passando, no qual a sustentabilidade do setor está sendo posta à prova. “Os recursos financeiros não são suficientes para cobrir os gastos com a saúde de uma população que vem envelhecendo e exigindo cada vez mais do sistema, que sofre, ainda, com problemas de gestão, mau uso de recursos e desvios – que acabam por atingir frontalmente os avanços tecnológicos necessários e importantes para a saúde do brasileiro.”
Em busca de promover soluções para impasses como estes, a Abimed se associou, recentemente, ao Instituto Ethos. O principal objetivo dessa parceria foi permitir que as iniciativas do Ethos sejam disponibilizadas às empresas filiadas à Associação.
Sobre a parceria, Felipe Kietzmann, presidente da Comissão de Ética da Abimed, ressalta que, dentre outras sinergias, essa ação visa “colocar a integridade da área da Saúde na pauta do Instituto Ethos, contribuindo para a sua agenda com governo e autoridades públicas”.
Caio Magri, presidente do Instituto Ethos, revela que, além do projeto de investimento conjunto para a melhoria da performance da integridade das empresas associadas a Abimed, o Instituto tem como objetivo levar para a Associação metodologias de indicadores e medidas concretas de materialidade para a gestão da sustentabilidade dos negócios, com questões ligadas ao meio ambiente, direitos humanos, integridade e ética.
“Nós estamos nessa parceria disponíveis e dispostos a apoiar a Abimed em tudo aquilo que ela precisar para construir um ambiente sustentável na Saúde. Queremos montar um banco de boas práticas com as empresas que têm, de fato, conseguido estabelecer mudanças e transformações na sua direção da sustentabilidade”, diz Magri.
Os Indicadores Ethos, por serem uma ferramenta para a verificação e contínuo aprimoramento dos padrões éticos, irão amadurecer ainda mais o sistema de Saúde. “Esta parceria deve possibilitar à Abimed conhecer essa experiência e fomentar que as empresas que compõem a indústria da alta tecnologia de produtos para saúde avaliem os seus programas de compliance, acompanhem a sua evolução e assegurem sua efetividade”, complementa Kietzmann.
Mapeamento do Setor
Um dos projetos conjuntos entre as instituições será o mapeamento sobre o grau de maturidade em compliance das empresas associadas à Abimed, um projeto inspirado em experiências nacionais e internacionais.
Segundo Claudia, a ideia é que a partir deste mapeamento as empresas possam definir suas ações de fomento a sistemas cada vez mais robustos e plenamente eficazes. “Este é um trabalho que já vem sendo conduzido pelo Comitê de Ética da instituição, tendo como base o seu Código de Conduta, revisado constantemente e que prevê que as empresas estejam aderentes a esses padrões comportamentais”.
O presidente do Instituto Ethos explica que a pesquisa será elaborada através da participação de mais de 50 empresas avaliadas por meio de 14 indicadores que medem o grau de maturidade dos programas de integridade de uma empresa. Além de voluntário, o processo é uma aplicação de autodiagnóstico. As empresas interessadas receberão treinamentos de capacitação para aplicar e desenvolver o método.
Segundo Magri, este estudo é dividido em quatro grandes etapas: capacitação, aplicação dos indicadores, análise individual de cada empresa e sistematização de todas as instituições que participaram do projeto. Sobre a relevância deste mapeamento, Magri acredita que através dele será possível diagnosticar a atual situação para que depois sejam tomadas as mudanças necessárias para aprimorar o desenvolvimento das empresas associadas.
A previsão é que o relatório deste projeto seja lançado ainda neste ano. De acordo com Kietzmann, se a iniciativa for bem-sucedida, a intenção é torná-la anual, permitindo assim uma adesão maior pelo número possível de associadas e o acompanhamento da evolução dos seus respectivos Programas de Compliance.
“Nós acreditamos que o levantamento será um grande contributo para o setor. A indústria internacional já vem se debruçando sobre o combate a todas as formas de corrupção há bastante tempo, ao passo que no Brasil não temos essa uniformidade”, conclui Claudia.
Revolução Ética
Para Claudia Scarpim, os sistemas de compliance da indústria brasileira estão maduros, reflexo de influência internacional de países que já desenvolveram legislações anticorrupção há algum tempo. “Nós temos visto as relações entre os players do setor evoluírem com o país. Estamos passando por uma verdadeira revolução ética. O mercado e a população vêm cobrando das empresas e instituições ações transparentes, e a experiência da indústria contribui para essa evolução que é benéfica para todos”.
Na visão de Kietzmann, atualmente, muito se fala sobre a necessidade da criação de programas de compliance efetivos e não apenas simbólicos ou formais. O executivo acredita ainda que o primeiro passo para que um programa seja efetivo é conhece os riscos de mercado em que cada instituição atua, para que as políticas, processos e controles internos sejam estruturados de modo a prevenir os principais riscos decorrentes de cada perfil de empresa.
“A partir da implementação do programa de compliance, atividades de autoavaliação, monitoramento e auditoria são fundamentais para assegurar que o programa esteja sendo efetivo, ou seja, realmente prevenindo esses riscos”, reflete o diretor.
Por outro lado, Magri pontua que “nós ainda estamos muito distantes de dizer que as indústrias, em sua maioria, estão desenvolvendo práticas de boa governança e um ambiente de integridade e transparência no Brasil”. Para ele, por mais que existam exemplos de boas práticas no setor no país, ainda estamos distantes de termos a maioria das empresas com essas práticas. “O nosso desafio para os próximos anos é ampliar e conseguir conquistar que a maioria das indústrias brasileiras sejam éticas, íntegras e que contribuam para uma sociedade sem corrupção”.
Interferência cenário político-econômico
“A sociedade, a política e a economia não suportam mais esse ambiente de corrupção na relação público-privada. Então, nesse cenário, as empresas precisam abrir os olhos, entender a mensagem e serem parceiras nesse processo de mudança na sociedade”, reflete o presidente do Instituto Ethos sobre a atual influência do cenário político-econômico na implantação de Programas de Compliance nas instituições.
Sob o olhar do diretor Regional de Compliance e presidente da Comissão de Ética da Abimed, Felipe Kietzmann, os recentes escândalos de corrupção no Brasil, encorajou “o próprio fado da Lei Anticorrupção brasileira ter previsto a existência de mecanismos e procedimentos internos de integridade, como atuante na eventual aplicação de sanções, criando um incentivo econômico para que as empresas invistam nesse tipo de programa”.
Matéria publicada na 47ª edição da revista HealthCare Management.