O A.C.Camargo Cancer Center é um dos três parceiros brasileiros do programa de pesquisa Grand Challenge, anunciado pelo Cancer Research UK, órgão de fomento de pesquisas sobre câncer do Reino Unido, que investirá 100 milhões de libras (cerca de 390 milhões de reais) nessa ação.
A Instituição fará parte de um dos projetos que compõe o programa, o Mutographs of câncer: discovering the causes of câncer through mutational signatures, liderado pelo Professor Mike Stratton, diretor do campus voltado às pesquisas sobre Genoma do Wellcome Trust Sanger Institute, no Reino Unido.
O objetivo desse projeto é entender como a interação da população com o meio-ambiente e comportamentos de risco como fumar e consumir bebida alcoólica, por exemplo, podem levar ao desenvolvimento de câncer devido aos danos ao DNA que as nossas células sofrem pela ação desses agentes.
Em um grande esforço global, será feito o sequenciamento do exoma (todos os exóns do genoma de um indivíduo) de cinco mil amostras de tumores de rim, pâncreas, esôfago (células epiteliais e escamosas) e de intestino, que serão coletadas nos cinco continentes.
De acordo com a cientista e Superintendente de Pesquisa do A.C.Camargo, Vilma Regina Martins, o Grand Challenge é uma demonstração de que a comunidade científica olha o câncer como sendo um problema mundial e que o entendimento de como a doença se apresenta em cada país propicia a compreensão e medidas preventivas em âmbito global.
“O câncer é uma doença global e a solução virá justamente do esforço de todos nós. No Brasil, por exemplo, temos uma população miscigenada que é diferente da miscigenação encontrada na Índia ou do perfil da população de Moçambique. Os países se diferem também quanto à interação com o meio-ambiente e às muitas outras variáveis que serão avaliadas. Com isso, queremos saber o que faz um câncer ser mais incidente em uma nação do que em outra e quais são as causas que levam ao surgimento da doença em cada região”, destaca.
Em caráter prospectivo, a Instituição participará da contribuição brasileira ao projeto por meio da coleta de amostras a serem sequenciadas e da aplicação de questionário padronizado junto aos pacientes, que avaliará variáveis como hábitos alimentares e exposição a agentes carcinogênicos. No total, o programa contará com 900 amostras brasileiras.
O A.C.Camargo Cancer Center fará uso da expertise dos profissionais de seu banco de tumores e de macromoléculas, pioneiro no país e que foi criado há 20 anos, e também de seu Departamento de Epidemiologia, coordenado pela epidemiologista Maria Paula Curado.
A cientista dirigiu o setor de Epidemiologia do Instituto de Pesquisa sobre Câncer (IARC), da Organização Mundial de Saúde, e pertence ao grupo de pesquisa liderado pelo Professor Paul Brennan, que dirige a divisão de Epidemiologia Genética do IARC e que também lidera este projeto financiado pelo Cancer Research UK.
Os demais participantes brasileiros do projeto são o Hospital de Câncer de Barretos e o Instituto Nacional de Câncer (INCA).
Grand Challenge
Com duração de cinco anos, o Grand Chalenge procura redefinir o câncer como uma doença que as pessoas possam conviver com ela. São sete perguntas-chave relacionadas ao câncer.
Além de ampliar o entendimento quanto às causas (agentes etiológicos) e respostas ao tratamento, o programa tem como meta desenvolver vacinas para prevenir cânceres não-virais; erradicar os tumores induzidos pelo Epstein-Barr vírus (EBV); distinguir entre tumores letais que necessitam de tratamento dos tumores não letais; encontrar uma maneira de mapear os tumores nos níveis molecular e celular; desenvolver abordagens inovadoras para tornar o câncer uma doença controlável (crônica) e não letal e entregar macromoléculas biologicamente ativas a qualquer e/ou todas as células do corpo.
Os projetos aprovados pelo Grand Challenge para os próximos cinco anos visam melhorar a eficácia das estratégias de diagnóstico por imagem e molecular, com implicações do tratamento personalizado; distinguir as lesões de fato indolentes das lesões com potencial de invasão em casos de carcinoma ductal in situ, direcionando quais pacientes com esse subtipo de câncer de mama podem ser poupadas ou beneficiadas pelo tratamento e outro projeto que visa criar representações virtuais de tumores e uma base de dados global que catalogará a sua composição genética e metabolismo, podendo levar a novas formas de diagnosticar e tratar a doença.