O autorretrato sempre foi um gênero à parte na história da arte. Aqui, sete novos fotógrafos clicam a si próprios e dão novos significados a essa tradição, assim como fazem em seus respectivos trabalhos, a partir de técnicas, linguagens e identidades muito particulares.
RONY HERNANDES
De mudança de Curitiba, PR, onde mora há sete anos, para São Paulo, sua cidade natal, o retratista Rony Hernandes transita entre a fotografia de moda e a conceitual (especialmente nus). Na segunda categoria se enquadra o Projeto Florescer, uma série que realizou em 2017, quando se formou na escola paranaense Omicron. “Foi um estudo de nu que mostra o florescimento, o estado de expansão do corpo. Isso me trouxe uma linguagem de sentimento. Me tornei retratista como uma forma de mostrar e ampliar pessoas e corpos”, explica Rony, que diz fazer 97% de suas imagens com luz natural – daí seu aspecto tão realista. Ele encara a volta para a capital paulista com dualidade. “A cena cultural de Curitiba é incrível, mas, ao mesmo tempo, o Sul é um lugar hostil para negros e gays, como eu.” Por lá, realizou trabalhos como a campanha Momento x Movimento, para a Melissa, e o catálogo da loja de cabelos afro De Benguela. “Cansa você sempre ver padrões brancos e politicamente corretos”, diz. Aos 22 anos, o profissional, que também faz as vezes de modelo, ministra o workshop Corpo, onde propõe um reconhecimento do próprio corpo dos fotógrafos antes de começarem a fazer retratos, nos dias 13 e 14 de abril, em São Paulo. @ronyhernandes
MAR + VIN
A dupla de fotógrafos de moda MAR+VIN é formada por Marcos Florentino, de 25 anos, natural de Jaicós, PI, e Kelvin Yule, de 24 anos, de Valença, BA. Eles se conheceram em 2016, quando participaram de um concurso no Fashion Cruise, do qual foram finalistas. Chegaram à terra firme não como dupla, mas como um casal. Ainda sem trabalho em São Paulo, o baiano passou a ajudar o piauiense, já estabelecido na cidade, em suas sessões de estúdio. O olhar de um complementou o do outro e, desde que começaram a assinar como MAR+VIN, nunca mais fizeram trabalhos autorais solo. Fotografaram editoriais para as revistas Vogue, GQ, Marie Claire, Glamour e L’Officiel e campanhas para marcas como Aquarela e Sephora. Autodidatas, descrevem sua técnica como intuitiva e natural. Também lutam pela representatividade negra. “Fotografar negros não deveria ser uma característica nossa, mas se faz necessária”, diz Kelvin. “Antigamente, você entrava em um site de agência e só tinha duas modelos negras; hoje tem bem mais”, avalia Marcos. @marvin
HELEN SALOMÃO
Vinda da periferia de Salvador, BA, Helen Salomão, de 24 anos, usa a fotografia como instrumento de empoderamento de mulheres negras. Em vez de se prender a tons de pele, a soteropolitana busca revelar as epidermes (e os corpos) dos seus retratados como são. “Procuro mostrar a diversidade de tons de pele negra e não hiperssexualizar o corpo da mulher”, explica Helen, que há dois anos deixou de fazer qualquer tipo de edição nas peles de quem fotografa. Ela iniciou sua trajetória em 2015, ao completar o curso gratuito de formação multilinguagem na escola carioca de arte e tecnologia Oi Kabum!. Inspirado em sua mãe, seu projeto de conclusão, chamado Gorda Preta, mostrou cem retratos de mulheres negras que não se enquadram nos padrões de beleza mais óbvios, compostura forte. A iniciativa repercutiu na internet e rendeu trabalhos como a campanha Mulheres Invisíveis, para a Adobe, e sua participação na exposição Axé Bahia: The Power of Art in na Afro-Brazilian Metrospolis, na Universidade da Califórnia. @helensalomao.
FRANCISCO PRONER
Em abril do ano passado, quando Luiz Inácio Lula da Silva passou uma noite no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo, SP, antes de se entregar à Polícia Federal, uma foto com o ex-presidente sendo carregado pela multidão viralizou na internet. A imagem é de autoria do carioca Francisco Proner, de apenas 19 anos. Da noite para o dia, o fotógrafo iniciante (que é enteado de Chico Buarque) ganhou 40 mil seguidores e viu seu nome estampado em publicações de veículos como The New York Times, The Guardian, Le Monde e El País. Entre 2014 e 2016, o jovem saíra às ruas para aprimorar seu estilo de fotojornalismo cobrindo várias das manifestações que chacoalharam o país antes do impeachment de Dilma Rousseff, para veículos independentes como Mídia Ninja e Jornalistas Livres. “Não me considero um fotógrafo de esquerda, mas, sim, um fotógrafo de direitos humanos”, explica Proner, que já viajou para documentar a realidade de países como Etiópia, Sudão e boa parte da América Latina – o autorretrato acima foi feito em Cuba. Agora, seu principal projeto é a agência Farpa, composta por um coletivo que oferece coberturas sob medida para diversos veículos do Brasil e do mundo. @franciscoproner
CAMILA SVENSON
A bauruense Camila Svenson paga os boletos com trabalhos de fotojornalismo, mas é em sua atividade autoral – sempre com filme de médio formato na câmera analógica Mamiya – que ela se realiza. Para a fotógrafa de 29 anos, o segredo de um bom retrato é descer do salto. “Tento sempre me colocar no lugar do retratado, que está em uma condição de vulnerabilidade”, explica ela. Em 2016, participou de uma residência artística no Fjúk Art Centre, na Islândia e, no ano seguinte, estrelou a exposição individual Nova Fotografia – You Will Never Walk Alone, no MIS, em São Paulo. A máxima valeu para diversas de suas obras, como uma série que fez sobre mulheres lésbicas, como ela, nas ruas da capital paulista, onde vive desde 2004. O projeto abriu os trabalhos do coletivo Amapoa, que mantém com a fotógrafa Pétala Lopes. “Nos juntamos pois queríamos entender e investigar o espaço das mulheres na fotografia e nas artes em geral”, explica. A dupla agora atua em uma série sobre adolescentes entre 13 e 17 anos. “O intuito é observar como jovens se relacionam com ritos de passagem”, conta Camila. @camilasvenson
MARIANA MALTONI
Com editoriais publicados nas Vogues brasileira, italiana e espanhola e nesta Casa Vogue, entre outras revistas, a carioca radicada em São Paulo Mariana Maltoni se divide entre fotografias de moda, retratos e registros autorais com uma linguagem bem gráfica e clean. Em Londres – onde fez cursos na Tate Modern e na Central Saint Martins, da University of the Arts London –, iniciou sua série artística em 2012. No ano seguinte, de volta a São Paulo, armou a primeira mostra individual, com imagens de corações de animais, no centro cultural Plataforma. Dois anos depois, participou da exposição pop-up Subject Matters II, organizada pelo laboratório criativo Dream Box, em Nova York, ao lado de outros fotógrafos brasileiros como Felipe Morozini e William Baglione. As imagens tinham de responder à pergunta “por que a temática importa?”. Apesar da experiência, ela explica que seu trabalho não segue um tema específico. “Uma boa foto depende muito do olhar naquele momento, não precisa ser algo preconcebido”, diz Mariana, que prepara um livro com suas imagens autorais para este ano. @maltoni
Fonte: Vogue Magazine