O mercado mundial de saúde gera um fluxo de cerca de R$ 325 bilhões ao ano, o que à primeira vista pode representar um cenário de oportunidades para o setor produtivo. Porém, na contramão dessa tendência, o Brasil concentra apenas R$ 15 bilhões deste montante. A baixa parcela de participação do País pode ser considerada um reflexo do baixo investimento no desenvolvimento tecnológico, principalmente, nos setores de alta tecnologia. Para debater a questão, a terceira edição do Congresso de Inovação em Equipamentos e Materiais para Saúde (Cimes), realizado nesta quarta-feira (16/04), em São Paulo, reuniu os atores da cadeia produtiva para avaliar os desafios da indústria médico-hospitalar.
O painel “Apoio direto à inovação” contou com a presença de Pedro Palmeira, chefe do departamento de Indústria da Saúde do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Ele comentou o posicionamento privilegiado da indústria da saúde como uma das poucas áreas que podem atingir simultaneamente dois objetivos de desenvolvimento: o econômico e social. “Do ponto de vista da dimensão social, é inegável que o investimento bem calibrado na indústria de saúde contribui para ampliar o acesso da população a bens e serviços de saúde, contribuindo para o desenvolvimento econômico e social do País”, destacou.
De acordo com Palmeira, o crescimento quase exponencial no gasto com a saúde e as transformações no perfil epidemiológico da população criam novos desafios, em especial, para o setor médico-hospitalar. Como consequência, a tendência de aumento da demanda por tecnologias voltadas para o diagnóstico e tratamento de doenças crônicas reforçam a necessidade de investimento nos diversos segmentos do setor. “A indústria brasileira de equipamentos e materiais é um setor não homogêneo e, por isso, é preciso tentar identificar cada segmento para pensar em soluções”, avaliou.
Para Palmeira, a variável econômica da indústria talvez seja uma das únicas, além da eletrônica, capazes de induzir uma efervescência tecnológica nas instituições científicas e tecnológicas, absorvendo e difundindo tecnologia. “As tecnologias empregadas na indústria de saúde acabam se difundindo para outras áreas do conhecimento e fazem com que passem a ser produzidos no Brasil serviços de maior valor agregado. Em consequência, ajudam a melhorar a situação do País em termos de troca de bens e serviços em relação ao resto do mundo”, explicou.
Segmentação do setor
Na tentativa de mapear as oportunidades e fragilidades da indústria médico-hospitalar, o diretor institucional da Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos, Odontológicos, Hospitalares e de Laboratórios (Abimo), Márcio Bósio, adicionou ao debate a necessidade de avançar em questões complementares para entender melhor os detalhes do setor produtivo. Segundo ele, a indústria de materiais e equipamentos médicos é formada, em maior parte, por pequenas e médias empresas que se dividem em cinco segmentos que precisam dialogar entre si para fazer inovação.
“Em equipamentos não dá mais para pensar que a empresa vai continuar fabricando um ou dois equipamentos sem que ela faça uma discussão com empresas complementares, porque hoje com a integração que os sistemas de gestão hospitalar estão trabalhando não é mais possível que a empresa com um único ou dois equipamentos possa ficar no mercado”, comentou.