No início deste mês recebemos a notícia de que o Produto Interno Bruto (PIB) apresentou crescimento no primeiro trimestre deste ano de 1%. Parece pouco, mas a alta deve ser comemorada, pois foi o primeiro crescimento trimestral após oito trimestres, a última alta registrada havia sido de 0,5%, em 2014.
O número positivo é motivo de celebração sim, mas não de alívio. Aos poucos as indústrias vão retomando suas produções, as empresas de serviços recuperando seus clientes, mas ainda não há sinais de contratação.
De acordo com dados do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – são 13,5 milhões de brasileiros sem emprego e esta taxa é a maior desde o ano de 2012. Se pensarmos em famílias, que dentre estes 13 milhões há pessoas em que sustentam suas casas, o número de afetados pela crise é ainda maior.
Esta situação de instabilidade prejudica diretamente o setor da Saúde. De acordo com uma pesquisa do Instituto de Estudos da Saúde Suplementar, a contratação dos planos está diretamente relacionada à taxa de desemprego, já que 66% dos planos contratados são coletivos. E nos últimos doze meses, ainda segundo a pesquisa, houve uma redução de cerca de 980 mil beneficiários nos planos de saúde privados.
Neste cenário, a conta é direta: se há menos empregos, há muitos brasileiros sem planos de saúde e, por consequência, um número maior de pacientes no SUS.
Os hospitais que fornecem atendimento ao sistema nunca estiveram tão próximos de um colapso. Mais uma vez a conta é direta, se há mais pessoas para serem atendidas, o mesmo número de colaboradores e a mesma verba deficitária de sempre, as dívidas tendem a aumentar cada vez mais.
É difícil manter um serviço de qualidade nesta situação, que requer que o setor da Saúde aumente sua eficiência de funcionamento, gastando a mesma coisa, ou melhor, gastando menos.
A situação é desfavorável para as Santas Casas e hospitais filantrópicos, mas a realidade é esta, o jogo já começou e, independentemente das dificuldades, os hospitais não podem deixar de atender a população, não podem deixar de cumprir a missão de um filantrópico, que é doar-se por amor à humanidade.
Por este motivo, os filantrópicos estão reestruturando suas estratégias de gestão e buscando expandir projetos e ações que aumentem a captação de recursos. As entidades investem em operadoras de saúde próprias e promovem eventos beneficentes para arrecadação de recursos.
Enquanto não houver mais recursos do governo, o setor privado não volta a contrariar e as autoridades não se dão conta de que ocupam cargos públicos para governar por políticas que visem o bem-estar da população geral, os filantrópicos vão buscando alternativas. Nós precisamos sobreviver até que o esperado respiro de alívio chegue.
*Artigo escrito por Edson Rogatti, Presidente da Fehosp e da CMB.
Artigo publicado na 48ª edição da Healthcare Management. Clique aqui e confira a edição completa.