Em setembro, o laboratório Fleury começou um projeto ambicioso, que permitirá o diagnóstico mais rápido de mutações genéticas. No fim do mês, os pesquisadores da instituição passaram a utilizar o Watson, sistema de inteligência cognitiva desenvolvido pela IBM, para mapear mutações genéticas no DNA dos pacientes. A tecnologia permite comparar o código genético de cada paciente a inúmeros outros já cadastrados e também a um banco de dados de pesquisas médicas. No futuro, a análise feita pelo Watson poderá ajudar médicos a identificar que, por trás de uma doença, está um gene que não funciona como deveria.
Com a parceria, o laboratório tornou-se a primeira instituição médica a usar a versão do Watson para genômica na América Latina. Atualmente, a IBM mantém parcerias com cerca de 20 instituições médicas em todo o mundo, que já utilizam essa versão do Watson em caráter experimental. Entre elas está a Universidade de Tóquio, no Japão, e uma série de hospitais especializados em câncer, como o Centro de Câncer da Universidade do Kansas, nos Estados Unidos.
De acordo com a diretora executiva médica e técnica do Grupo Fleury, Jeane Tsutsui, os pesquisadores vão abastecer o sistema do Watson com o sequenciamento genético realizado por pacientes no laboratório. Esses dados servirão como base para testar a precisão das análises feitas pelo Watson. “Existe um potencial muito grande gerado pela revolução da computação cognitiva”, diz a médica.
Depois que os dados passam pela análise do sistema, o Watson emite um relatório em que faz um ranking das mutações genéticas mais críticas identificadas no DNA do paciente. O sistema também oferece aos médicos uma lista de tratamentos recomendados. “A decisão final será sempre do médico”, diz Jeane. “Mas a tecnologia ajuda.”
Desafio. O uso de sistemas de análise de grandes volumes de dados tem se tornado cada vez mais importante na área da saúde. A cada vez que o código genético de um paciente é sequenciado, uma avalanche de dados é gerada. Para fazer essa análise, as instituições médicas já contam com sistemas para processar as informações. Ainda assim, é preciso manter um grande time de especialistas para avaliar as potenciais mutações e ordená-las de acordo com a gravidade.
“Se um oncologista quiser se manter atualizado sobre todas as pesquisas na área, ele teria que estudar 167 horas por semana”, diz Mariana Perroni, coordenadora médica da divisão de saúde do Watson, na IBM. “É impraticável.”
Com a parceria, o Fleury e a IBM estão fazendo investimentos – as empresas não revelam o total de recursos e a quantidade de pessoas envolvidos no projeto. “É um investimento para facilitar o acesso dos brasileiros à medicina de precisão”, diz Jeane. “Se conseguirmos realizar esse tipo de análise no Brasil, reduzimos o tempo de espera do paciente.”
Ainda de acordo com o laboratório, o sequenciamento genético dos pacientes da rede vão passar pela análise do Watson de forma anônima e criptografada. As empresas garantem que isso evita que dados sensíveis sobre a saúde das pessoas venham a ser acessadas por terceiros.
Ainda não há previsão de quando o Fleury vai passar a usar o Watson em escala comercial. “Isso é uma prioridade”, diz Jeane. “Mas o projeto será tratado com todo o rigor que a área de saúde exige.”
Fonte: Estadão.com.br