Na última semana, de 05 a 09 de março, tive a honra de participar do maior evento de Tecnologia da Informação em Saúde do mundo, a HIMSS’18, que aconteceu em Las Vegas – EUA.
Juntamente com um grupo de brasileiros, CIO’s de importantes hospitais do Brasil, foi possível imergir em um oceano de tecnologias e oportunidades de negócios em saúde, que de uma maneira inexplicável, mexeu como vejo e penso, me provocando repensar a forma como estamos olhando para as tecnologias.
Muito se ouviu sobre o quanto estamos atrasados em termos tecnológicos, e acreditem, isto é um fato. Estamos atrasados não só em tecnologia, mas sim em praticamente tudo (investimentos, Legislações e Cultura), mas vejam, eu disse “praticamente”. Me refiro ao fato que embora atrasados em quase tudo, sempre nos superamos em criatividade, nos superamos em como aproveitamos bem as oportunidades, e se existe alguém criativo, esse alguém é o Brasileiro.
Atrasados ou não, fato é que a experiência vivida na HIMSS’18 nos faz refletir sobre o que estamos discutindo e fazendo, ou pelo menos tentando fazer. Digo refletir no sentido de manter o rumo atual ou rever a rota e traçar um novo caminho em busca do crescimento tecnológico e de inovação, e, consequentemente da melhoria na qualidade de vida dos pacientes.
Particularmente esta imersão me deixou algumas lições aprendidas e alguns insights. Não se trata de verdade absoluta, e sim da sensação que tive ao visitar stands e conversar com fornecedores e companheiros do evento.
Vamos ao que interessa:
1 – O Paciente tem que ser ponto focal: Soluções tecnológicas por si só não agregam muita coisa se não forem aplicadas num contexto de melhoria da experiência do paciente, seja no aumento da qualidade de vida, na humanização com cuidados paliativos ou seja num contexto de prevenção de doenças. Neste contexto o uso de Analytics, Big Data, AI e IoT, foi visto em praticamente todas as ofertas de serviços e soluções. Ficou claro que temos nas mãos um tesouro, que aqui chamamos base de dados e não conseguimos fazer um uso efetivo disso. Análises preditivas poderão servir como diferencial na prevenção de doenças, no tratamento de patologias se antecipando aos possíveis métodos de tratamento e cura, no apoio a cuidados paliativos, e não menos importante, na sustentabilidade e saúde financeira das instituições.
2 – Inovação na essência da palavra: Machine Learning, AI, BlockChain, Analytics e IoT, não se tratam de inovação e sim de commodities. Inovação é a forma como usaremos isso em prol do paciente e das instituições. Existe um universo de possibilidades de inovar utilizando-se destas tecnologias, porém precisamos trabalhar a cultura da inovação num contexto de quebrar paradigmas culturais e aceitar o que o mercado mundial já está trabalhando a algum tempo. Precisamos muito evoluir neste conceito e colocar nos nossos planos imediatamente.
3 – Cloud Computing e Hiperconvergência são caminhos inevitáveis: Não podemos mais discutir se iremos para a Nuvem. Devemos sim discutir como e quando iremos para Nuvem. Escalabilidade, Otimização de Custos e Flexibilidade são fatores fundamentais em um ambiente tão dinâmico quanto o de Saúde. A grande discussão é o que faremos com os legados e como encarar as barreias culturais e legislativas que enfrentamos hoje. Novamente salta aos olhos nosso atraso, porém embora mesmo que a passos lentos, já evoluímos bastante nestes assuntos e mesmo com uma fatia bem pequena, a maioria dos hospitais já estão tratando destes temas e iniciando algum serviço neste ambiente.
4 – Cybersecurity merece sim uma boa parte de nossa atenção: Precisamos mais do que nunca proteger nosso principal ativo; Os Dados. Em todas as apresentações de produtos, mesas e palestras, este assunto sempre veio à tona. A boa notícia é que muitos dos fornecedores estão sim preocupados com isso e já tratam este assunto como regra básica para concepção de seus produtos, e, na medida do passível, ficaram algumas dicas de como adequar a nossa realidade. A má notícia é que ainda se exige muito investimento e novamente esbarramos na barreira cultural e principalmente na barreira financeira com soluções que não se enquadram nos padrões monetários do Brasil. Não teremos vida fácil sem segurança e compliance.
5 – Transformação Digital no Brasil é a novidade mais antiga do momento: Sim, estamos atrasados. Apesar de a transformação digital já estar acontecendo há muito tempo, foi muito fácil perceber que no Brasil estamos colhendo o milho, enquanto lá fora já estão fazendo a pamonha. E-mail em nuvem, Chatbot e agendamento de consulta num App, não se trata mais de transformação digital. Novamente a transformação digital precisa ser uma cultura que resultará em uso de tecnologias com impacto na qualidade de vida do paciente através da assistência. Para se transformar digitalmente, precisamos fazer com que as soluções tecnológicas resultem num tratamento mais eficaz, num tempo menor de internação, em tratamentos menos invasivo possível e por fim resultar em um diferencial estratégico, colocando seu hospital num patamar de negócio diferenciado e sustentável.
Em resumo, após a imersão neste oceano de tecnologias e soluções de negócio, fica como lição de casa, tentar trazer para dentro de nossos hospitais à cultura digital e cultura da inovação aplicando na medida do possível um pouquinho daquilo que vimos de oportunidades. Precisamos conversar mais com nossos fornecedores, no sentido de fomentar a viabilização do uso de soluções e de alguma forma (principalmente financeira), tentar aplicar o que de melhor está se fazendo com a tecnologia no mundo todo.
Felipe Colucci é gerente de tecnologia da informação no Complexo Hospitalar de São Bernardo do Campo e membro da diretoria da Associação Brasileira CIO Saúde (ABCIS)