Encontro coordenado pelo Hospital Moinhos de Vento conta com parceria do Ministério da Saúde e colaboração da Organização Nacional de Transplantes da Espanha
Nos dias 09 e 10 de março, Porto Alegre receberá representantes de 70 instituições públicas e privadas do Brasil, das Centrais Estaduais de Transplante, do Ministério da Saúde (MS) e da Organização Nacional de Transplantes (ONT) da Espanha. Eles participarão do Encontro Nacional de Investigadores do Estudo DONORS, projeto que tem como objetivo otimizar a doação de órgãos em todo o país. A iniciativa, coordenada pelo Escritório de Projetos PROADI – SUS do Hospital Moinhos de Vento em parceira com o MS, deve reunir cerca de 250 profissionais no Hotel Deville Prime.
O estudo busca encontrar novas formas para melhorar o manejo de potenciais doadores com morte encefálica – e, assim, otimizar a doação de órgãos no Brasil. “Quando constatada a morte encefálica, o paciente continua sendo um potencial doador. Porém, quando ocorre uma parada cardíaca, órgãos como coração e fígado não podem mais ser aproveitados”, explica o chefe do Centro de Terapia Intensiva Adulto (CTIA) do Hospital Moinhos de Vento, Cassiano Teixeira.
Estima-se que a taxa de perdas por parada cardíaca em potenciais doadores esteja na casa dos 25%. Esse índice difere bastante de outros países, como a Espanha, onde é de apenas 3,2%. “Os profissionais de Unidades de Terapia Intensiva (UTI) também precisam ser capacitados para melhorar o manejo desses pacientes para que, caso os familiares autorizem, esses órgãos possam constar na lista de transplantes”, complementa o médico intensivista.
Em paralelo ao processo de diagnóstico e de manutenção do potencial doador, há uma segunda etapa: a conscientização da família. Estudos mostram que a taxa de recusa familiar no Brasil é de 30 a 40%, sendo a falta do treinamento das equipes das UTIs para abordagem adequada dos familiares um dos motivos para a alta taxa de recusa.
O encontro de dois dias contará com treinamentos e orientações específicas para a entrevista familiar. “Em alguns casos, perde-se o doador por uma interface má conduzida, pois é um momento delicado, que precisa de uma atenção especial”, revela Glauco Adrieno Westphal, coordenador do projeto.
Na Espanha, referência mundial em doação de órgãos, a taxa de recusa é de apenas 15%. Os resultados alcançados no país europeu se devem, em grande parte, ao trabalho desenvolvido pela enfermeira Carmen Segovia. A especialista é uma das fundadoras da ONT, vinculada ao governo espanhol. A entidade foi a primeira no mundo a criar esse tipo de treinamento para profissionais da saúde. A especialista estará presente no evento em Porto Alegre e compartilhará essa experiência durante a programação.
Segundo o Registro Brasileiro de Transplantes, 1.149 pessoas aguardavam por um transplante de órgãos no Rio Grande do Sul em 2015 – mesmo que o Estado tenha um dos melhores índices de doações do país. Com dados consolidados entre 2008 e 2015, o relatório aponta que a taxa de doação de órgão no Brasil foi de 14 por milhão de população (pmp). Nos países com melhores resultados, chega-se a 35 doadores pmp. Para o Brasil, a meta é atingir 20 até 2018.