Monitorar os movimentos do tumor durante a Radioterapia, aplicando com precisão uma alta dose de radiação poupando os tecidos saudáveis vizinhos ao câncer. Este é o principal diferencial do equipamento que entrará em funcionamento amanhã (10) no Centro de Oncologia do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre (RS). Em uma iniciativa pioneira no Brasil, a instituição gaúcha passará a operar a mesma tecnologia adotada em 17 dos 25 hospitais de referência no tratamento de doenças oncológicas nos Estados Unidos. O primeiro procedimento será realizado em um paciente com câncer de próstata.
Em agosto, o Hospital Moinhos de Vento inaugurou um dos centros de Oncologia mais modernos do Brasil. Com o novo Centro, a Unidade de Radioterapia e Radiocirurgia recebeu um acelerador linear com a plataforma TrueBeam.
“Ao implantar o transponder torna-se possível orientar automaticamente o acelerador linear (TrueBeam) que fará a radioterapia. É como se tivéssemos um piloto automático que usa os implantes como referência. O tratamento é mais rápido, com menos efeitos colaterais e permite a entrega de uma dose mais concentrada de radioterapia”, ressalta o Coordenador da Unidade de Radioterapia e Radiocirurgia do Centro de Oncologia, Wilson de Almeida Junior. A Radioterapia é a técnica utilizada para eliminar ou impedir que as células de tumor aumentem. Ela pode ser usada em combinação com a quimioterapia ou outros recursos usados no tratamento de tumores.
Esta será a primeira vez no país em que o implante eletromagnético para orientar em tempo real o tratamento com radiação será utilizado em um paciente. O sistema funciona através do implante de um pequeno transponder em qualquer parte do corpo onde houver indicação. Ele funciona como um localizador, que sinaliza ao TrueBeam se a área a receber o feixe de radiação está corretamente posicionada, uma vez que a própria respiração do paciente, por exemplo, pode provocar movimentações no alvo.
Os órgãos do corpo humano se movem naturalmente durante um tratamento e podem sair fora do campo previamente delimitado pelos médicos. “Poderemos aplicar altas doses de radioterapia com grande acurácia, rastreando o tumor em tempo real. Um pequeno emissor do tamanho de um grão de arroz é implantado sobre o tumor e funciona como um GPS, guiando o sistema de radioterapia com precisão milimétrica. Isto permite uma redução na área a ser irradiada. A consequência é a redução dos efeitos colaterais e da toxicidade aos tecidos saudáveis”, ressalta o Chefe do Serviço Médico do Centro de Oncologia, Sérgio Roithmann.
Em um recente estudo realizado na Califórnia (EUA), o novo sistema diminuiu os sintomas como impotência, incontinência e sangramento retal no caso de câncer de próstata. Os pesquisadores conseguiram aumentar as doses de radioterapia e diminuir as margens da radiação de 10mm para 3 mm – o que foi decisivo para melhorar os resultados do tratamento.
Segundo o especialista do Serviço Médico de Urologia da Instituição, Rafael da Luz Boeno, a radioterapia de alta precisão proporciona um grande avanço, principalmente nos casos de câncer de próstata. “Vários estudos corroboram a eficiência do Sistema Calypso na localização precisa do tumor, diminuindo os efeitos colaterais da Radioterapia. O transponder ajuda a diminuindo efeitos colaterais como incontinência urinária e disfunção erétil. O implante dos localizadores é feito com anestesia, sem dor e ambulatorial, uma semana antes de realizar a radioterapia”, ressalta.
Para o oncologista Sérgio Roithmann “trata-se de uma evolução para tratamentos mais eficazes e sobretudo com menores sequelas. Cada vez que um avanço como este acontece, conseguimos combinar os tratamentos com maior segurança e o paciente pode se beneficiar das associações de radioterapia, quimioterapia, biológicos e a cirurgia”.