A atenção no cuidar, o tratamento humanizado e foco no bem-estar do paciente faz parte da história da assistência ao paciente. A evolução da medicina, a incorporação de tecnologias e a especialização na saúde, fizeram com que o foco no paciente fosse aperfeiçoado. Apesar do maior acesso à informação, erros e acertos no tratamento permaneceram sob o domínio da equipe de saúde. O paciente continuou um agente passivo nesse processo. Enfrentamos o desafio de alterar essa realidade. Afinal, se o paciente tem o direito a um tratamento digno e de qualidade, também pode ativamente, contribuir para a melhoria da segurança do cuidado.
A partir deste contexto, em 2004 a Organização Mundial da Saúde (OMS), publicou a campanha “Patient for Patient”, e em 2013, o Ministério da Saúde lançou o Programa Nacional para Segurança do Paciente. A principal meta desses movimentos, e o de envolver o paciente no combate aos danos evitáveis à saúde, por meio de um engajamento baseado na honestidade, informação e transparência. A OMS ainda estabeleceu seis metas para segurança do paciente, com o objetivo de promover melhorias específicas em situações de assistência consideradas de maior risco como: Identificação dos pacientes; Comunicação efetiva; Segurança dos medicamentos de Alta Vigilância; Cirurgia Segura; Redução de Risco de Infecção e Redução do Risco de Lesões em decorrência de Queda.
Dar aos pacientes condições para esse engajamento significa uma “via de mão-dupla”, uma quebra de paradigma dentro de um ambiente culturalmente acostumado a ter no médico e equipe o portador do conhecimento final sobre todos os atos. As bases para a prevenção e enfrentamento de eventuais resistências que certamente surgiram nesse caminho foram à informação e transparência.
No campo da informação, muitos hospitais vem trabalhando com à elaboração e distribuição de folders educativos sobre questões para a prevenção de danos no decorrer da assistência. Como reforço, instalam nos quartos dos pacientes quadros informativos, cujo conteúdo incentiva o proprio paciente e familiar a cobrarem da equipe comportamentos de segurança, como a manutenção e confirmação da pulseira de identificação; checagem da identificação do paciente antes da administração de medicamentos; confirmação do nome e dose correta de medicamentos; procedimentos que precisam de autorização por escrito (termo de consentimento); obrigatoriedade de sinalização do lado a ser operado; higienização das mãos por todos os profissionais que entram no quarto, entre outras ações. Por outro lado, algumas Instituições adotaram o critério da transparência, com a divulgação dos seus resultados consolidados por meio de indicadores de segurança da assistência. Essas informações são muitas vezes disponibilizadas nos sites dos hospitais, ou publicadas nos murais internos das Instituições. Essas ações incentivam os pacientes e familiares a contribuírem com sugestões para a melhoria dos resultados com foco na segurança assistêncial.
Dentro de um amplo processo de humanização do atendimento em saúde, a segurança é fator essencial para a manutenção do direito à vida. Embora o impacto das medidas implantadas seja de difícil mensuração, nossa percepção é que a atuação conjunta de instituições de saúde e pacientes, é a forma mais eficiente para enfrentar os desafios relacionados à qualidade e segurança, e alcançar as metas estabelecidas.
Sandra Cristine é Gerente de Qualidade do Hospital Sírio-Libanês