A cena lembra um filme de ficção científica. Controlados à distância, por uma espécie de joystick e com o apoio de recursos de visualização em 3D, os quatro braços mecânicos equipados com pequenas pinças executam movimentos delicados. Essa precisão cirúrgica do robô Da Vinci está servindo de inspiração para os o Hospital Alemão Oswaldo Cruz, um dos pioneiros na adoção do equipamento e da cirurgia robótica no país. A instituição tem aprovado um plano de investimentode R$ 70 milhões para 2015, destinado à manutenção de suas operações e à ampliação de sua infraestrutura. No entanto, o hospital não descarta ampliar essa cifra para consolidar sua posição como uma das referências no país em tecnologia no segmento de saúde.
“Temos outros projetos em avaliação, com aportes que beiram os R$ 200 milhões. Mas como geramos nossos próprios recursos e não contamos com outras fontes de captação, existe um estudo muito cuidadoso na decisão de um investimento”, diz Paulo Vasconcellos Bastian, superintendente-executivo do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. “Nossa especialidade são as áreas de alta complexidade e temos como parâmetro os principais hospitais americanos”, afirma.Sob essa visão, a soma dos investimentos da instituição nos últimos cinco anos foi de R$ 520 milhões.
Hoje, o foco do hospital são as áreas de oncologia, neurologia, cardiologia, ortopedia e doenças digestivas. Nesse ano, cerca de R$ 30 milhões serão destinados à construção de centros de referência de oncologia e de neurologia, dando continuidade à estratégia iniciada em 2014, quando foi inaugurado o centro de obesidade e diabetes. Para o biênio 2016/2017, a ideia é instalar as unidades das demais especializações. Um dos diferenciais dos centros é a reunião, em uma única estrutura, de equipes multidisciplinares voltadas ao atendimento completo do paciente e mesmo de seus familiares. O serviço inclui recursos como diagnóstico, tratamento, cirurgias complexas e acompanhamento psicológico.
A ampliação da infraestrutura abrange outros projetos. Em julho, o hospital inaugurou um novo centro cirúrgico, com 9 salas de cirurgia e 13 salas de UTI. Com salas mais amplas, as cirurgias robóticas agora podem ser acompanhadas por todos os profissionais envolvidos, por meio de um monitor de 42 polegadas, em 3D. Até então, só o médico que controlava o Da Vinci tinha essa visão apurada. Também é possível transmitir imagens para o auditório da instituição e para computadores remotos, via streaming.
As novas instalações também incluem uma nova técnica de radioterapia para pacientes com câncer de mama, que reduz a exposição às sessões de aplicação — em média, 28 durante o tratamento — para uma única sessão. “Nossa ideia é estender esses recursos às demais salas do hospital”, diz Bastian. Hoje, a instituição conta com 22 salas de cirurgia e 44 leitos de UTI.
Com um custo de US$ 3 milhões e aplicação em cirurgias de alta complexidade — cabeça, pescoço, coluna, etc —, o Da Vinci é um dos responsáveis por essa sofisticação. Além da precisão e da alta definição, ele traz vantagens como procedimentos menos invasivos e uma recuperação mais rápida do paciente. Desde 2008, o hospital realizou 738 cirurgias com o robô. A instituição estuda investir em uma nova geração do equipamento, que por enquanto está disponível apenas no mercado americano.
Com o alto custo dos equipamentos, uma das alternativas do hospital são as parcerias com fornecedores. Uma das principais usuárias do sistema de gestão clínica Tasy, da Philips, no país, a instituição mantém uma parceria para testar e desenvolver novas soluções com a fabricante. No plano de novas tecnologias em avaliação — com fabricantes nacionais e estrangeiros —, um dos projetos no radar é um robô que permite que um médico faça, por exemplo, um diagnóstico remoto de um paciente na UTI. A máquina coleta e transmite os sinais vitais e outros dados, além de permitir a comunicação entre profissionais e pacientes.
Outra frente é a educação. Após lançar em 2013 a Escola Técnica de Educação em Saúde, voltada à formação de profissionais de enfermagem, a instituição inaugurou nesse ano sua Faculdade de Educação em Ciências da Saúde, inicialmente com um curso de gestão hospitalar. O hospital aguarda agora a aprovação do Ministério da Educação para novos cursos, que incluem ainda pós-graduação e MBA. “Mais que a tecnologia, as pessoas são essenciais para manter o nosso padrão de atendimento”, diz.
O hospital está lançando ainda um serviço de consultoria de saúde ocupacional e bem-estar para empresas, a partir do sucesso obtido em seu programa interno, implantado em 2010, junto aos seus mais de 2 mil colaboradores. A ideia é oferecer um pacote de serviços, que inclui atividades esportivas, acompanhamento médico e nutricional, check-ups e estabelecimento de metas para funcionários, com o objetivo de permitir que as empresas possam reduzir as taxas de sinistralidade em seus planos de saúde corporativos. No momento, o hospital já está desenvolvendo um piloto com uma grande empresa, de nome não revelado.