De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), cuidados paliativos, conceito atualizado em 2002, consistem na “assistência promovida por uma equipe multidisciplinar, que objetiva a melhoria da qualidade de vida do paciente e seus familiares, diante de uma doença que ameace a vida por meio da prevenção e alívio do sofrimento, da identificação precoce, avaliação impecável e tratamento de dor e demais sintomas físicos, sociais, psicológicos e espirituais”.
Mesmo com os avanços nesta área, ainda são muitas as dificuldades para o bom exercício dos cuidados paliativos e para o atendimento da alta demanda por cuidados em pacientes de todas as idades.
Esta é a visão de Maria Goretti Sales Maciel, Presidente da Academia Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP). Entre as razões para este cenário são apontados fatores que englobam desde a escassez de profissionais treinados, até mesmo a falta de compromisso dos gestores de saúde.
“No Brasil ainda não temos uma política de cuidados paliativos. Muitos médicos ainda acham que encaminhar seu paciente para uma abordagem do cuidado paliativo significa desistir do tratamento e, muitas vezes, só o encaminha na fase final da vida”, ressalta.
A dificuldade de acesso a alguns medicamentos também colabora para este cenário. “Muitos municípios no Brasil sequer tem um ponto de venda de morfina, medicamento básico para o controle da dor.”
Investimentos
O cuidado paliativo, apesar de exigir excelência na formação de profissionais e adequação da assistência, é, também, uma prática que exige poucos recursos. Segundo Maria, os métodos são baseados em tecnologia básica da assistência, além de usar muitos medicamentos de baixo custo, sendo possível economizar valores na ordem de 40% das despesas com os doentes em fase avançada da doença se comparado ao modelo tradicional de abordagem destes doentes. “Isso sem citar o custo social e os indiretos que um doente gera em seu último ano de vida.”
Além da racionalização de recursos, há também mais fluidez nos leitos destinados a intervenções. “O cuidado paliativo pode ser oferecido em toda a rede da atenção. O tratamento intensivo no final da vida, além de não agregar valor para o doente, só pode ser oferecido em unidades hospitalares de alta complexidade, como as UTIs.”
Por fim, a gestora cita países como Canadá, onde todo hospital geral tem uma unidade de cuidado paliativo com leitos próprios. “Lá, todos têm o trabalho articulado com um excelente atendimento domiciliar ou unidade de cuidados de baixa complexidade e bem capacitada.”
Projetos
A deputada estadual de São Paulo, Sarah Munhoz, é autora do PL 599/2014, que propõe a criação no Estado da Rede de Cuidados Paliativos. Segundo o projeto, as unidades seriam implantadas, inicialmente, em cidades com mais de 100 mil habitantes.
“Estamos sempre atentos a todas as oportunidades que surgem no País. Colaboramos no grupo de trabalho criado pelo Ministério da Saúde este ano, com a intenção de implementar uma política nacional de cuidados paliativos”, ressalta a presidente da ANCP.