Recentemente, li uma pesquisa realizada pelo Datafolha, encomendada pela Associação Paulista de Medicina e pelo Conselho Federal de Medicina, sobre um levantamento bastante interessante realizado no estado de São Paulo. O estudo mostra que 52% da população acreditam que a saúde é o tema mais importante entre as políticas públicas de responsabilidade do governo federal.
O tema saúde, como de costume, foi o de maior destaque em relação à preocupação dos paulistanos, seguido por educação, com 19%. Dos pesquisados, 11% responderam que o combate à corrupção é o mais importante, 5% citaram segurança, 5% responderam moradia, 5% preocupam-se com o desemprego, 2% citaram o combate à inflação, 1% disse que meio ambiente é o tema mais importante e 0,3% afirmou ser o transporte.
Entre os itens abordados pelo Datafolha está o atendimento em saúde em geral e no Sistema Único de Saúde, o SUS. A maioria, 63%, atribuiu notas entre 0 e 4 à saúde de modo geral, numa escala de 0 a 10. O equivalente a 29% dos entrevistados deu nota zero. Um percentual menor, 30%, atribuiu notas de 5 a 7. Apenas 7% deram notas de 8 a 10. Levando em conta somente o atendimento do SUS, 39% o avaliaram como insatisfatório (notas de 0 a 4). O mesmo percentual, 39%, atribuiu notas de 5 a 7. A parcela de entrevistados que deram notas de 8 a 10 foi 21%.
Os serviços que mais obtiveram insatisfação foram consultas com médicos, atendimento de emergência e cirurgias. O levantamento apontou que a espera no SUS para a marcação de consulta, exame, cirurgia ou procedimento é de até um mês em 21% dos casos, varia de um a seis meses em 50% dos casos, fica entre seis meses e um ano em 14% e supera um ano em 14% dos casos.
Todos esses números só confirmam o caos que a saúde pública brasileira está vivendo. Essa situação não só causa um rombo nos cofres públicos como também coloca em risco a vida de milhões de cidadãos brasileiros, que em sua maioria dependem dos serviços do SUS para cuidar da sua saúde.
Este cenário precisa mudar. Investimentos em tecnologias que permitam ao governo gerir melhor a prestação dos serviços de saúde são fundamentais para ajudar a mudar essa realidade. Sistemas de prontuário eletrônico que ajudam a informatizar o atendimento aos pacientes, registrando seu histórico clínico, incluindo exames, são o primeiro passo para uma mudança consistente.
O segundo passo é promover um intercâmbio dessas informações entre a equipe médica de diferentes organizações de saúde, sejam elas hospitais, clínicas ou laboratórios, criando um grande repositório de dados dos pacientes – o que vai contribuir de forma decisiva para que o governo trabalhe a saúde de uma maneira preventiva e não tratando o paciente quando ele já está doente.
Muitas iniciativas desse tipo já estão sendo colocadas em práticas no país e acredito que sirvam de exemplo para que, em um futuro próximo, a saúde brasileira passe por uma grande transformação, mudando o rumo de pesquisas como essa que acabei de retratar.
Artigo escrito por Fernando Vogt é Diretor de Desenvolvimento de novos negócios para a América Latina da InterSystems, publicado na 32ª edição da revista Healthcare Management.